Para Deborah
Deborah, desde que eu li o que você escreveu sobre a nossa conversa de outro dia, permaneço inerte, no que se refere a formular uma resposta à altura do que foi escrito. Apesar de morarmos à milhares de quilômetros de distância um do outro, de termos uma diferença boa de idade e etc, estávamos na mesma sintonia, como se nos conhecessemos desde o berço e nossa convivência fosse diariamente física, desde então. Não sei, eu estava realmente desesperado naquele dia. Tem hora que é complicado. Eu queria pensar menos nas coisas, queria não me irritar tanto nesta cidade, queria não acordar every single day com a frase 'another day of torture' na cabeça e eu peço desculpas por ter usado você como válvula de escape e ter depositado o meu desespero na sua cabeça e ter te deixado confusa. Mas estávamos na mesma sintonia e eu acabei me abrindo mais do que deveria com quem eu mal conheço e que - apesar da boa intenção e do bom coração - não pode me ajudar do jeito que eu estava precisando/querendo/sonhando. Fiquei meio decepcionado, é verdade. A culpa foi minha, cavei um pequeno poço de esperança, me joguei dentro e fui soterrado com alguns palmos de decepção. Mas isso não importa, pois eu descobri alguém - com uma idade em que eu só pensava em andar de skate e mais nada - que consegue ser tão inteligente e especial. Ler o que você escreveu me deixou de queixo caído! Fui surpreendido num momento em que estava achando tudo o que eu produzia um verdadeiro chorume de uma alma confusa. Além da importância que você conquistou, sem querer e desde já, dentro de mim, descobri que posso me sentir especial, às vezes, mesmo fazendo tão pouco por qualquer coisa que seja, inclusive por mim mesmo. Li e reli o seu texto umas trinta vezes. Você conseguiu descrever a cena de uma forma simples que quem lê, não visualiza o texto, não; quem lê entra naquele bar cheio de empresários e casais com os hormônios fervendo e de garçons desesperados e participa daquele diálogo carregado de sentimento entre um Paulista aspirante a escritor e uma Pernambucana de coração nobre. Por Deus, eu incorporei nele como se fosse eu mesmo! Senti o abraço da leitora, o desespero dele fazendo aquele pedido e a confusão dela ao dar uma resposta que ele não queria ouvir, mas de uma forma tão sincera que o deixou catatônico e sem palavras - é, ele, o escritor, sem palavras. Sim, senti o abraço, a troca de energias, a troca de agradecimento de um existir na vida do outro, mesmo que seja à distância. O abraço cristalizando pra sempre o que eles sentem um pelo outro... É, da primeira vez que eu li senti um aperto dentro de mim. Já escrevi sobre um bocado de gente e me ver como personagem no que foi escrito por outra pessoa é uma viagem e tanto! É bem diferente do que criar um heterônimo, sei lá que diacho, e traçar o próprio roteiro fazendo o que se quer. Você não pode por força maior dar o arrimo que quer e que eu talvez precise, alterar nem que seja temporariamente o roteiro da minha vida, mas só de ter passeado a retina no meu EU escrito por você, já me deixou satisfeito, plenamente satisfeito, com uma vontade ENORME de ficar abraçado com você até o apocalipse acontecer, até os dinossauros renascerem e um tsunami oriundo do Sol lamber a Terra. Até o fim dos tempos e, cara, até agora eu enrolei preenchendo o tempo tentando dar uma resposta mas não consigo! Não sei o que você quis dizer com "veja o que eu errei e o que eu posso consertar" antes me dar essa tina de bálsamo em forma de palavras... Não houve erro de forma alguma. Não houve erro em momento algum. Erro de nenhum tipo. O que houve foi mais um chute no rabo, mais um "acorda puta que o pariu" e um apontamento de uma nova trilha que eu devo seguir - e foi bem quando eu estava na encruzilhada olhando ao redor as inúmeras placas de caminhos intimidadores e incertos. Enfim, não sei o que falar. Sei que você vai me garantir bons sonhos hoje e bons bocejos amanhã - pra variar um pouco, não é? hahaha
Ps: Obrigado digo eu, mais linda, por você existir e por ter ido me deletar do Orkut pouco antes de descobrir minhas baboseiras! :)
Com amor,
Rafa.