Mesmo Cara

Oi...

Eu não faço a mínima ideia de por onde começar. Sendo assim, nada como começar pelo fim, não é?

Acho que se mostrassem para nós um filme da nossa realidade de hoje há dois anos.... Eu diria que era mentira. Pelo menos gostaria que fosse mentira - não que eu ainda não queira que seja.

Também acho que eu deveria ser sincera. De uma vez por todas.

As coisas estão bem penosas para mim. É bem difícil acordar todos os dias sabendo de tudo que aconteceu e do que está acontecendo. Mas difícil ainda quando meu inconsciente decide sonhar. Porque todas as noites eu sonho com você. Na maioria das vezes você é o meu Augusto - eu comecei a fazer a distinção entre o cara que gostava de mim e esse que você é agora - e você volta. Você sempre fala a mesma maldita frase e eu sempre tenho a mesma reação.

Eu fico feliz no sonho. Eu sou tomada por uma felicidade tão pura e imbecil que eu fico completamente boba. E isso deveria ser bom.

E é bom acordar depois desses sonhos pelos primeiros dez segundos. Porque eu penso que está tudo bem de novo. Que eu tenho motivo para me arrumar para ir ao colégio - ou que eu tenho motivo de ir sorrindo para a escola. Que eu tenho amigos de verdade de novo, que as pessoas não vão cochichar quando eu passar sozinha pelo corredor.

Por dez segundos eu posso gostar de você sem sentir uma dor insuportável, sem querer desaparecer... Sem sentir culpa.

Eu posso ser tão feliz quanto eu fui um dia.

Mas aí eu lembro. Aí eu perco você de novo. Aí você vai embora da minha vida sem olhar para trás de novo, levando tudo com você.

E esses são os meus piores dias.

Eu não menti quando disse que meu maior medo era te perder. Perdê-lo foi como perder a mim também.

Lembra daquela Débora que chorava por tudo, que sorria por tudo? Lembra da Débora que sonhava com um futuro brilhante? Lembra da Débora que fazia piada sobre tudo, que via a parte boa em cada ser humano que aparecesse? A Débora que tinha medo do escuro, medo de ficar sozinha... Medo de ficar de recuperação e de não ser a melhor em tudo? A Débora que sempre tinha alguma coisa pra contar ou algum comentário idiota?

Ela foi embora junto a você.

Essa que ficou está se lixando para a escola, só tem medo de decolagem de avião e só chora por causa do mesmo motivo, não por qualquer outro. Ela nunca pensa no futuro, nem se preocupa em ser boa em alguma coisa. Ela não tem nada para contar nem para comentar. Ela não sorri à toa. Ela não vê as partes boas de um ser humano... Simplesmente não confia mais em nenhum.

Para dizer a verdade, elas só têm uma semelhança.

A duas ainda esperariam pelo mesmo cara. As duas ainda fechariam os olhos e imaginariam o futuro ao lado do mesmo cara. As duas ainda dariam tudo por um abraço apertado e ouvir três palavras - as três palavras que as deixariam mais felizes que qualquer pessoa no mundo -do mesmo cara. As duas ainda ficariam embaixo de uma tempestade gelada, de baixo do sol escaldante para, mesmo que só por três segundos, poder ver o mesmo cara. As duas ainda fariam qualquer coisa para não perder o mesmo cara - ou para ganhá-lo. As duas acreditariam - e acreditaram - nas verdades e nas mentiras mais absurdas do mesmo cara.

As duas imploraram para ele não ir embora - mais aí mora a diferença: uma pôde sorrir porque ele voltou... A outra não teve a mesma sorte. As duas rezaram para um anjo salvá-las das coisas ruins - a primeira o teve, a segunda o viu ir embora. As duas choraram ao pensar no final - a primeira só imaginou, a segunda se lembrou.

As duas amam o mesmo cara. E as duas engoliriam toda a merda do orgulho que elas têm e diriam isso- um milhão de vezes se necessário.

Só que a segunda já foi a primeira e a primeira nunca foi a segunda. A segunda é infinitamente mais madura e mais forte. A segunda sabe a diferença entre ter aquele cara e não ter, e sabe das mil vantagens e desvantagens que isso leva. A segunda não precisa daquele cara - ou, pelo menos, não quer precisar.

A segunda olha para o passado com muita dificuldade - eu sei que o passado passa por ela todos os dias e ela é obrigada a olhá-lo a todo o momento -, mas olha, e vê que foi bom. Sabe que foi bom. E sabe que o futuro também pode ser. Mesmo que o presente diga o contrário. A segunda ainda pediria uma segunda chance - mas ela saberia que não a teria. Mesmo sabendo o quanto ela seria melhor que a primeira, a segunda não tem do mesmo cara o que a primeira teve - amor eterno enquanto durou.

Débora Dias
Enviado por Débora Dias em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2628975
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