cartas

querida,

vc fica chateada se eu escrever assim tudo com letra minúscula?

saudades da calmaria de minas e do seu sorriso, uma flor vc inteira, e como é bom andar por entre as flores num dia suave de sol... vc sabia que eu tenho pesadelos na vida real? pois tenho.

sabia também que muito eu penso em viver isolada num sítio, num lugar assim bem ao natural com casa, casca de árvore, folhas ocres em gramas verdes, dias nublados, céus anis com nuvens brancas esgarçadas e tudo mais, à noite pode ter estrelas no céu ou lamparina, tá bom. Os cobertores de orelhas arranham e deixam a gente surda, eu gosto de todos os barulhinhos do mundo, da noite, do dia amanhecendo, do galo gritando, dos pássaros, dos grilos, dos sapos e das lagartixas passando nas folhas, nas telhas, nas pedras, e tudo no plural, tá bom.

eu tenho tensões, dessas dores no ombro esquerdo indo pro pescoço. é como um choque, um choque o cotidiano, um caminhão de repente do nada na noite atravessando o caminho quase a cervical um baque mudo passando em cima da mémória viva, mas não aparece nem um arranhãozinho... então, penso pétalas me tocando, penso uma iluminura suave filtrada de algodão sobre minha pele e o silêncio adormecendo meus cabelos, penso nos meus cabelos brancos morrendo de rir, se embolando às gargalhadas... bêbedeira de palavras, tá bom.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 19/11/2010
Reeditado em 19/11/2010
Código do texto: T2624761