Uma carta dessas escritas a mão mesmo
São Paulo, 23 de Outubro de 2010
Pra:XXXXX
Eu tenho tanta coisa que eu gostaria de te dizer, mais não tenho e menor idéia do que dizer, afinal eu não sou muito bom com as palavras, na verdade eu até me entendo bem com as palavras, o que eu realmente não me entendo é com as pessoas, e por isso me perco com as palavras e com as pessoas. E com você não é diferente, eu perco nas palavras, nas atitudes, me perco em simples olhares. Por quê? Porque eu não sei lidar com as pessoas, e eu até prefiro a minha bolha, gosto de estar nela.
Só que nos ultimo tempos eu me perdi na minha própria bolha, vive anos em coma, eu respirava, eu via, falava, entendia mais não compreendia, sobrevivia mas não vivia, ouvia mas não escutava. Algumas pessoas na igreja comentaram comigo da minha “timidez”, só que não era por timidez que eu sumia sem falar com ninguém. Era só porque eu não queria mesmo falar com ninguém.
Me afastei de Deus por anos. . . . . os motivos eu não consigo explicar, nem tenho essa intenção. Voltei pra igreja pra tentar provar pra mim mesmo que, ou Deus não existia, ou ele não tinha tanto amor como os crentes acham. Pensando assim me isolei do mundo, me isolei de Deus, e me isolei de mim mesmo.
Me esforcei tanto em achar as pessoas insignificantes pra mim, que acabei me tornando insignificante pra quase todo mundo e, por incrível que pareça, to tornei insignificante pra mim mesmo.
Porque eu fiquei assim? Porque não queria mais gostar das pessoas, porque isso é triste. As pessoas mudam, nos decepcionam, as pessoas saem da nossa vida, as pessoas deixam de gostar da gente, as pessoas mentem, enganam e se enganam o tempo todo. Acho que a resposta mais correta é que dizer que a bolha é mais segura. “quanto menos pessoas ao redor, menores são as decepções”. Carreguei essa frase pra minha vida por anos.
Você deve estar se perguntando: por que esse idiota, completo imbecil está me dizendo essas coisas?
Isso nem eu sei responder. . . . . . mas eu tento:
Trazendo a memória coisas de alguns anos atrás. . . .. eu gostava de conversar com você, nem sei exatamente porque, mais eu gostava muito. De alguma forma eu achava que realmente entendia como eu me sentia com relação a muitas coisas que nem eu mesmo entendia sobre mim. Nem sei se isso acontecia de verdade, mais era o que eu sentia, e isso me fazia muito bem. O Eddie vivia me dizendo que agente era muito parecido. E nessas conversas, que nem foram muitas, mais as poucas foram profundas, pra mim pelo menos, e você nem sabe, ou pelo menos não teria como saber, mais essas conversas com você me ajudaram demais num processo que eu achei que jamais passaria na minha vida, só que acabei sendo muito ingrato, confundi as coisas e agi como um idiota, completo imbecil (talvez por ter agido assim eu penso que você acha isso de mim) e afastei você da minha vida.
Por muito tempo eu consegui conviver muito bem com isso, na verdade eu não achava que tinha agido como um idiota, completo imbecil (acho que isso faz de mim mais idiota ainda) e estava bem com isso. Mas apesar de ser assim “o cara da bolha”, que não gosta de ninguém, ou melhor, não quer gostar de ninguém, sempre gostei de ajudar, sem olhar a quem.
E um dia, esse negocio de não achar aquelas atitudes estúpidas e imbecis, não eram estúpidas e imbecis mudou. E foi assim: Um dia na igreja eu te vi com um olhar muito expressivo, do tipo “preciso conversar com alguém”, meu impulso imediato foi querer falar com você. Eu estava quase indo, mais ai eu lembrei que agente se ignorava (eu sei que esse negocio de não nos falarmos foi idéia minha, mas não foi uma coisa que eu consegui sozinho), então eu desisti da idéia, mas depois disso eu passei a lembrar de momentos que havia deletado da minha mente. De tanto pensar a respeito eu cheguei a conclusão que eu agi como um idiota, imbecil. E achei que o mais correto era falar com você, mas o ser humano tem o tal orgulho e por isso, isso não aconteceu, por um bom tempo pelo menos. E eu também achava você acabaria me dando uma esnobada que não me faria bem, o que eu acho que acabou acontecendo mesmo.
Então assim eu repensei tudo que eu havia feito, não só com relação a isso mas com relação a muitas coisas na minha vida. Mudei conceitos, revi certezas, trouxe a tona incertezas que tinha como certas pra vida. Nesse processo, me decepcionei com pessoas as quais eu amava, vi amizades irem embora, as melhores, mas também tive apoio do VERDADEIROS amigos, que são os que verdadeiramente importam, e também tive apoio de onde eu nem esperava que pudesse vir, que me ajudou a ter um pouco mais de fé no ser humano. Tive crises infinitas de insônia, briguei com todas as pessoas que me cercavam, e até mesmo quem não me cercava, eu só precisava de uma oportunidade pra explodir. Acumulei fracassos em cima de fracassos, derrotas e derrotas, as vitorias que tive nem conseguia enxergar. Vivi o limite de minhas faculdades mentais, sentimentais ou qualquer que sejam as outras que agente tem.
Hoje eu entendo que tudo isso foi um processo que precisava passar, e o que aconteceu foi que eu tive, pela segunda vez na minha vida, eu tive um encontro com Deus (o primeiro eu só contei na integra pra duas pessoas, e uma é você), foi no mesmo dia em que eu te procurei pra ter aquela conversa. Esse dia mudou o rumo da minha vida. . .. eu ouvi depois de anos a voz de Deus, que me deu coragem pra tomar atitudes que nunca achei que fosse capaz. Aprendi que as derrotas, como diria Nietzchie, são passos importantes para alcançar sucesso.
Quando eu te procurei, a atitude foi como eu esperava, exceto pelo abraço, que apesar de ter soado como um “tá bom, chega dessa conversa fiada”, foi importante pra mim.
Então o motivo pelo qual te escrevi essa carta é que, mesmo sabendo que é muito provável que isso seja impossível, eu gostaria de ter alguém como você pra conversar, mas conversas de verdade, afinal parte da minha mudança é sair do coma que estive por anos, e isso inclui sair da bolha. E faz tanto tempo que agente não se fala que na verdade nem sei que pessoa você se tornou, não sei nada da sua vida, assim como você, pelo menos até ler esta carta, não sabe nada da minha vida e não sabe que pessoa eu me tornei. Pode não parecer mas agente muda muito e nem percebe. Exemplo: como você que era apaixonada por psicologia e gostaria de estudar em Florianopolis, acaba estudando direito? Como um cara como eu que adorava escrever e queria ser jornalista e só aceitava estudar na USP acaba estudando Economia numa universidade particular? Alguma coisa aconteceu nesse processo pra coisas mudarem assim.
A carta é um tentativa de fazer com que você saiba um pouco do que eu me tornei e quem sabe um dia saber um pouco mais de você.
Alessandro