NOVEMBRO - (1° Parte - Carta)

Ainda me lembro do som da chuva caindo àquela noite, onde os seus olhos lacrimejantes encontraram os meus em um momento onde poderíamos ter dito tudo o que gostaríamos, mas na ânsia de encontrar alguma palavra que justificasse tal frustração, só o que prevaleceu, foi o silêncio, pois não havia argumentos para os fatos, a verdade é que já não éramos mais compatíveis. No fundo, não éramos o que cada um esperava do outro, nossos sonhos eram guiados por fantasias, possibilidades e suposições onde no fim, estávamos diante de um estranho… diante de uma realidade que não queríamos aceitar, não depois de tantos sonhos planejados, de tanta entrega, de tantos momentos juntos... De repente tudo pareceu perder o sentido...

No dia seguinte o seu perfume já não se fazia presente em meus lençóis, naquela noite ainda tive um sonho junto a ti, onde por muitas outras noites eles ainda se mantiveram em mim até que eu me acostumasse com a realidade e a cada manhã, era como acordar de um lindo sonho e ter de viver uma realidade sem cor, sem vida, sem sentido, sem você…

Numa noite de abstinência, abri uma gaveta na escrivaninha onde guardei algumas lembranças de nós dois, foi então que me deparei com uma fotografia nossa, onde nela havia um momento marcante junto a ti, onde naquele instante, nada parecia ser capaz de abalar os nossos sonhos e enquanto observava a imagem, vi cada sonho ressurgir como se estivesse revivendo aquele mesmo momento ao seu lado.

A saudade que com o tempo já havia se esvaecido, latejou ao olhar para aquela imagem, vi tudo o que pensei estar esquecido ressurgir junto a tantas lembranças que em meio à distância, passou a alimentar a saudade. Talvez você não tenha sido o que eu esperava, mas mesmo assim, eu sinto a sua falta… Falta da forma como lidava comigo, onde a nossa maneira, sempre nos entendíamos, onde sempre víamos filmes antigos que ninguém mais via, sempre fazíamos brincadeiras que ninguém mais além de nós entendia… Sempre líamos livros velhos que ninguém mais lia, onde em cima deles, filosofávamos em meio as nossas loucas idéias que só nós dois entendíamos… Sinto falta do seu jeito único de me beijar, do seu jeito único de sorrir, do seu perfume, da sua voz sussurrando em meus ouvidos em meio a risos, dos seus olhos nos meus... Sinto a sua falta… Você não foi mesmo o que eu tanto fantasiei, mas com certeza você foi mais do que eu esperei e só agora isso eu notei…

Novembro está chegando, o mês em que sempre comemoramos o nosso aniversário de namoro, talvez esse seja o primeiro depois de quatro anos juntos, que não iremos comemorar essa data tão especial para ambos. Queria muito que estivéssemos juntos novamente, só que agora, seguir no caminho certo, onde hoje eu sei que você é o que eu quero por ser quem és, e nesse momento, a questão maior é… O que eu sou… é o que você pode vir a querer também? Estou disposto a descobrir isso e dessa forma, seguirmos com os nossos sonhos de onde paramos, e dessa vez, viver sonhos reais, respeitando e admirando quem realmente somos.

(Para Iza)

(Continua...)