Gabriela Chaves

Enquanto eu fico batendo às teclas conjeturando/pensando sobre a vida e o que é ou deixa de ser felicidade e/ou amor, eu me deparo com o seu post sobre o seu final de semana. O que posso falar? Deu pra sentir em cada linha escrita a felicidade que você sentiu nesse monte de horas acordada. Fiquei imaginando como deve ser foda ter amigos que saíram de um outro estado - e que faltaram no trabalho na sexta e irão virados na segunda-feira - só pra participar da primeira festa de aniversário da Malu. E também de como é organizar a festa de aniversário do nosso filho. A primeira festa de aniversário do nosso primeiro filho. Os detalhes como o tema de decoração da mesa, as ligações pra mulher que faz os salgados, pra mulher que faz os doces, o envio dos convites, a compra dos pães, a carne na panela, os quitutes veganos, a cachaça, os refrigerantes, o bexigão cheio de porcaria dentro, as músicas da Xuxa e etc.

Esperei ansioso pelo dia da festa. Dos quatro primeiros rebentos da Ugly Crew, só pude comparecer ao aniversário de um - um tal de Pedro interesseiro e safado aí - e ainda assim cheguei no final da festa. Apesar de ter forrado a pança com doces e pão com berinjela (gnag) não consegui absorver a festa - que festa, se já havia acabado? A Jéssica deve me odiar por isso hahaha. Mas enfim, voltando ao dia da festa. Dia que calhou de ser um daqueles que eu tenho alergia à luz do sol, alergia ao céu, alergia à pessoas. Onde eu acho a vida uma imbecilidade inútil e as pessoas mais inúteis ainda e por estar no topo da escala hierárquica da imbecilidade por assim pensar, eu prefiro ficar em casa, recluso, trancafiado e detestando qualquer possibilidade de ter contato com alguém ou algo que não seja o teclado ou o papel e a caneta para tentar afastar ou agravar a minha misantropia.

Que ótimo filho da puta eu seria se tivesse ficado em casa choramingando, não? Que belo exemplo de babaca eu seria se não comparecesse à primeira festinha de aniversário daquele pedacinho de gente que nunca vem no meu colo quando chamo. Oras, o pessoal se deslocou do Tucuruvi, do Rio de Janeiro do RIO DE JANEIRO eu disse e eu ficaria em casa? Mas e se fosse, com que cara ia ficar? Seria uma boa se fosse uma festa à fantasia para que eu colocasse uma máscara de monstro que seria mais bonita do que a minha carranca de confusão e desgosto sem propósito; mas não era. Era a festa da Malu. A primeira festa da Malu. Então eu fui, torcendo para não estragar o dia de ninguém com a minha agorafobia que julgo ser interpretada como uma desnecessária atitude esnobe pelos outros.

Apesar de sabe que a sua família é grande, que você tem vários grupos de amigos espalhados por aí, que estaria também a família do Wagner, eu não esperava encontrar tanta gente, tanta criança, tanta festa, tanto idílio no meio dessa roça que você mora (hahaha). De início fiquei meio assustado, como se fosse um pombo solto no meio dos gatos, não sabendo se voava dali, se esperava o abate, enfim, etc. Mas, diabos, que poderia eu esperar quando é você que está dando a festa? Eu, definitivamente, estava deslocado. Inclusive de mim mesmo!

E na hora do "parabéns pra você", hein? Cristo, fiquei tentando sugar a energia que emanava daquele povo todo. Fiquei tentando incorporar, tomar emprestada a sua emoção e a do Wagner. Ter um filho não é fácil. Ainda mais com a nossa idade, com as nossas condições financeiras e essa merda toda (além dos espíritos-de-porco que sempre surgem com comentários desprezíveis sem saber que estão minimizando e equiparando a própria existência à de um verme quando abrem a boca fedorenta).

Bom, não sei. Estar ali salvou o meu dia. Me salvou do meu dia. Era ali, aquela pessoa que me pagou o ingresso pro show do U.S. Bombs, que cantou Águia Filhote comigo no Kazebre, que me ligava às três da manhã pra falar sobre tudo e falar sobre nada, que disputava comigo as histórias mais furadas possíveis com o sexo oposto, que trocava conselhos comigo, que tirou foto com a peruca Black Power no Túnel do Tempo pra ficar parecida comigo (Iiii) e, meu, é muita coisa, é muito tempo, são muitas bandas, muitos namorados e namoradas e ficantes e ficantes e rolos e rolos e sempre nos mantemos na linha um com o outro, sem brigar, sem divergências de opinião de grande magnitude, sem nunca termos compartilhado irascibilidade ou indiferença. Você foi o meu primeiro contato com a Feminilidade; foi o primeiro crânio feminino que conheci que pensava exatamente como eu sobre coisas e coisas e coisas e coisas e que tinha a petulância e sangue-frio e cara de pau pra acreditar nas próprias mentiras antes de repassá-las e se regozijar contando um pro outro sobre os olhares apalermados dos interlocutores vitimados por nossos embustes. Sim, você foi e é tudo isso e estava ali, segurando no colo a sua filha que é uma das coisas mais lindas e chatas desse meu mundinho estranho enquanto todas aquelas pessoas que só te desejam o melhor batendo palmas e cantando o mais desafinado "parabéns pra você" de todos que já ouvi.

Mas eu tive que voltar pra casa. Meu embotamento estava me dominando e só as palavrinhas conseguiriam dominá-lo e me devolver um pouquinho de paz. Mas, não sei, me senti meio cretino por não poder participar de tudo o que envolveu esse seu final de semana. Queria ter queimado os pulmões e a boca de tanto encher bexiga, ter passado raiva desde o início da festa com aquele monte de criança correndo e causando o caos, COMENDO INFINITO e ter derrubado os pirralhos quando o bexigão foi estourado. Bah, caralho, você é importante demais na minha vida. Por tudo, por tudo e por nada e eu amo você. Me perdoa por ser um merdinha chato? HAHAHA

TOPRETACOMERA* fuieuIiii

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 26/10/2010
Código do texto: T2580186
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