Sem nada a declarar, ou não

Querido Tio Evandro, Eu sei que os céus estão cuidando de você por mim, mas e quem vai cuidar de mim? Eu me sinto tão sozinha sem você; estou sofrendo mais que um cachorro sem dono. Não consigo lidar com a sua morte. Não consigo acreditar que umas das pessoas mais importantes da minha vida não está aqui comigo para compartilhar dos bons momentos, e me apoiar nas horas de dificuldade. Há tanta coisa que eu gostaria de te dizer, mas eu estou cheia de nós na garganta. Me arrependo profundamente de ter lhe falado poucas vezes o quanto eu amava você. Eu deveria ter feito isso mais vezes, todo dia, toda hora. Não consigo sem você. Tio, porque você não vem me salvar? Eu estou perdida, com medo da escuridão, com medo de me apegar ás pessoas, e acabar perdendo elas, do mesmo modo que eu perdi você. Eu não quero mais sofrer, eu não quero mais cair, eu não quero mais chorar. Eu só quero te ter aqui comigo, uma última vez. E eu iria rir, e eu iria te falar tudo o que eu sinto, e você diria que me ama também, eu sei que diria, eu sei que eu fazia parte da sua vida, eu sei. Foi tão trágica a sua morte. Até hoje eu não sei o que aconteceu direito. Ninguém sabe. É um mistério. Você sumiu, por três ou quatro dias. E depois encontraram o teu carro. E no dia seguinte, você. Ainda com vida. E então foi o policial que sentiu a sua última respiração. E aquele dia eu chorei. Chorei o dia inteiro. E eu ainda choro, porque eu não tive coragem de te ver pela última vez. Eu estava com medo de ter uma imagem diferente sua na memória. Uma imagem de alguém machucado, eu estava com medo de não reconhecer o lindo tio que eu tinha. Mamãe também achou que foi melhor desse jeito, assim eu teria uma imagem boa de você na memória. Agora, mais uma vez eu vou repetir, você tem feito muita falta. Enfim, eu te amo. Sem mais

Lunna M
Enviado por Lunna M em 22/10/2010
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