Carta aos recantistas: uma colega informa sobre pressão do Recanto contra alguns textos envolvendo a candidata oficial e o aborto...

Carta aos recantistas: uma colega informa sobre pressão do Recanto contra alguns textos envolvendo a candidata oficial e o aborto...

Caros Recantistas;

Uma colega nossa publicou alguns textos que são, na verdade, colagens de charges, textos já publicados e, opiniões dela sobre a questão do envolvimento da candidata oficial à Presidência da República com a polêmica do aborto, conforme a proposição de seu partido político, isto é, indiscriminado e até o nono mês de gestação.

Pelo que ela me informou, alguns dos Recantistas e, leitores simpatizantes da candidatura da senhora em questão, se movimentaram no sentido de pressionar os gestores do portal, com vistas à retirada de tais textos da área de publicação de seu perfil. textos de seu perfil.

Vejam bem: estamos em plena eleição presidencial - um tema de natureza e interesse nacional - e, ele só foi parar na boca da população, justamente porque ele consta do programa de governo da candidata oficial.

Se o assunto é motivo de intenso debate, é claro que o Recanto das Letras é um local muito útil e privilegiado, onde os seus participantes tem a oportunidade de expressar sua opinião a respeito, ou sobre qualquer outro assunto ligado aos debates próprios do desenvolvimento da campanha presidencial.

O tema do aborto indiscriminado, por sua própria natureza, movimenta opiniões e paixões de determinados grupos da sociedade organizada, como é o caso das militantes feministas, religiosos e, humanistas - além da opinião das pessoas comuns. Por isso mesmo, repito, é muito evidente que não passaria em branco, nestas eleições presidenciais, depois de ter sido incluido num programa de governo.

Ora, então não seria aqui o lugar que o Recantista escolheria para publicar suas opiniões, exercendo sua vocação, seu talento e, sua pena? Não seria aqui, o foro e o lugar para participação, amplificação e, esclarecimento, sobre o debate em questão? Não seria o Recanto das Letras, como disse, um lugar onde o leitor viesse buscar informações e dados para formar sua própria opinião a respeito?

Pois, bem; a colega em questão me informa que já recebeu duas convocações dos gestores do portal, para que faça a "retirada" dos textos da área de publicação, de seu perfil.

Mas, a questão é que nossa Constituição garante o direito à livre expressão. Nesse sentido, tanto quem escreve quanto quem publica, estão acobertados pelas prescrições contidas no seu Artigo 5º. E, como o Recanto das Letras é um portal literário e, não meio de comunicação ou, site noticioso...

Ora, se tal garantia existe, então porque ela está sendo pressionada a retirar seus texos? Porque trata do tema aborto? Duvido, pois não é possível que um site que reuna escritores amadores se submeta a tal tabú. Para evitar a polêmica e, a politização de temas dentro do portal? Ora, o escritor é um ser político em todos os sentidos e, a polêmica e, a discussão a fundo de quaisquer temas fazem parte de sua profissão...

Não tenho ainda autorização para indicar os textos e a autora, por isso. Mas, vou indicá-los, assim que ela autorizar, apenas com o intuito de que possam avaliar se eles merecem são tão ofensivos assim...

Exitem, a esta altura, milhares de textos publicados no Recanto sobre as eleições presidenciais e, oponiões sobre o processo eleitoral, os candidatos participantes, suas propostas de governo, suas condutas pessoais e, mesmo sua história.

Se existe algum impedimento de publicação de textos de tal natureza, então imagino que os circunstantes do Recanto das Letras devam ser avisados.

Todavia, sou da opinião de que a censura - velada ou teleguiada -, não combinam com o Estado de Direito e, nossa Constituição, nem colabora para a evolução do exercício da criação literária e, menos ainda, do exercício da cidadania.

Na verdade, todos os grandes escritores - do passado e, do presente, tiveeram sempre um compromisso forte e inadiável com a política de seus paíeses e nações. Este é um dos motivos, aliás, pelo qual Mario Vargas Llosa acabou de ser lauredo com o prêmio Nobel de literatura.

Um sociedade só cresce e, fortalece, na medida em que se fortalecem seus indivíduos e suas instituições, mediante o exercício reiterado e infidável dos direitos e garantias individuais e, coletivas, num ambiente onde cada pessoa e, a sociedade e a nação possa se expandir, em todos os sentidos, como uma imensa galáxia de seres, vontades, projetos e, destinos.

Todos sabem a importância dos literatos, dos livros e, das leituras em todas as revoluções modernas. E, escrever é, boa parte, um ato de expansão da consciência e, a visão do mundo, através da articulação, num texto, das impressões e, sensações individuais do mundo interno e, externo.

Em tal mundo, as visões de mundo particulares se articulam, num diálogo interminável e, ruidoso, onde a única verdade seja o contraste e, o colorido resultante de tal interação. O debate e, a polêmica, aí, não é, de forma alguma, um corpo estranho. Antes, é parte do processo - pois é um veículo muito oportuno de trânsito e comparação de opiniões.

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Em.22.10.2010: a censura, seja de que forma for, pode combinar com determinados interesses e, momentos históricos. Mas, jamais - digo com certeza, jamais! -, vai combinar com o espírito humano, que pugna, anseia e clama sempre pela liberdade! A censura, exercida de qualquer forma, só serve, aliás, a um objetivo, impor o silêncio como expressão de poder e intolerância com a divergência.

Há, na censura, um dilema: quem é censurado, tem o desgosto de sentir uma espécie de anti-decorrente do malogro da expectativa da repercussão de seu texto e, suas opiniões. Mas, aquele que censura, sente ao mesmo tempo, o gosto acre do exercício de um poder espúrio por natureza, mas, também sente o desgosto de vencer à custa da força e, não de um argumento mais inteligente e capaz...

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Obrigado a todos pelas manifestações, que tomo como apoio à causa da manutenção da liberdade de expressão em todos os âmbitos e, especialmente da colega de que falei, linhas acima.

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Em 23.10.2010: se eu considerasse os mais diversos tipos de censura corridas em todos os tempos e, se levasse ainda em conta que elas tivessem sido efetivas, talvez um terço dos livros que estão na minha estante nem mesmo existiriam!

Toda espécie de censura, de um modo ou de outro, é inútil. Se determinada tese ou conhecimento é reputado importante, ele acaba sobrevivendo e passando às gerações futuras...