Carta para Deus

Caríssimo Deus,

Como é maravilhoso abrir meu coração para falar das minhas alegrias e limitações. Sabe aquela menina acanhada e ingênua? Aquela que se encolhia feito uma concha para não se mostrar aos outros? Pois é. Ela ainda existe, só um pouquinho mais encorajada. Já faço minhas escolhas sem medo. Já apareço à luz do dia sem corar. Perdi a inocência, Senhor, mas ainda não adquiri a malícia, se é que é preciso adquiri-la.

Na selva urbana em que vivemos, essa parece ser uma arma indispensável. Entretanto, tenho usado outros apetrechos de guerra. E um deles, Senhor, envergonho-me de dizer, não causaria inveja a nenhum malicioso. Uso da indiferença para vencer meus desenganos e percalços. Sei ser fria quando poderia ser mais generosa e compassiva. Até comigo mesma. E disso não me orgulho.

Durante todos esses anos, ao menos aprendi que não sou, nem serei vítima de nada, nem de ninguém. Cada um tem o que merece. Aprendi que cada ação realizada leva a uma reação e isto me causa pavor. Afinal, minhas semeaduras não tem sido de sementes bem selecionadas. Mas não fugirei às minhas responsabilidades perante a vida.

Agradeço esta bela oportunidade de aqui estar nesta escola terrena mais uma vez. Não quero ser reprovada. Sei que o tempo urge e por isso nada de ficar lamentando os erros cometidos. Tenho é que correr atrás do prejuízo. Fazer curso de férias, se preciso for. Só te peço, Pai, um pouco mais de sabedoria e humildade para completar minha jornada, ouvindo melhor a voz da minha consciência.

Obrigada, querido Pai, por tantas experiências vividas e por tua infinita misericórdia.

Curvo-me diante de Ti.

Suzana Duraes
Enviado por Suzana Duraes em 20/10/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2568491
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