[Primavera Cinza]
[Para você – é claro!]
Alguma reflexão: nunca antes senti a primavera tão cinza, tão cinza com esta —, até as pitangas estão mais amargas, mais azedas...
E não há o que dê jeito nisso; o meu sorriso fechou-se em pedra fria — só vejo a lápide... Sinto os meus passos dificultosos, como se caminhasse à beira de um abismo — olho para trás, e é como se, por encanto, eu pudesse ver o rastro de minha caminhada pelo cone luminoso do Passado, o traçado erroso da minha linha de universo.
Não, feliz ou infelizmente, não há o “Eterno Retorno” — Nietzsche era apenas um louco — a ampulheta de minha vida tem um só sentido, não poderá ser invertida.
A primavera, para mim, agora, é cinza... mas o que importa? Nada importa...
E reajo — nada, exceto o querer: se quero, posso; e se posso, eu recomeço — eu me defino como um ser capaz de recomeços! E o querer de uma formiga me basta... Fantasmas é que retornam,
— eu recomeço!
beijo - (PS. o talhe rápido de suas frases é irretocável...)
[Penas do Desterro, 18 de outubro de 2010]