Ao Meu Pai.
Pai...
Perdoe-me a forma de falar como que aos gritos.
É que quase sempre me sinto perdido e, apesar de falar-te em silêncio, na linguagem do coração, me iludo em pensar que aos berros posso ser ouvido mais facilmente.
Sei, meu velho, que não tenho a sensibilidade de ouvir suas orientações como das vezes em que fazias ao pé-do-ouvido na varanda da nossa casa. Casa, aliás, que anda precisando de uma reforma, mas nem me mexo muito em fazê-la, pois tenho a impressão que as minhas lembranças da infância, de como éramos unidos e felizes eu, o senhor, mamãe e meus irmãos, possam se perder entre um novo reboco e outro.
Consigo te sentir perto de mim, óbvio, o tanto que o senhor nos ama, não haveria de ser diferente. Embora, as vezes, me esforço para resgatar o teu cheiro, Pai. Fico lembrando de quando chegavas um pouco antes do almoço e, enquanto mamãe colocava a mesa, deitavas na antessala, no chão, sem blusa e eu deitava a cabeça no teu braço só para sentir teu cheiro tão único, ouvir tua respiração, sentir tua veia do braço pulsar na altura do meu pescoço e eu ficava ali quietinho ao lado do meu herói.
E das vezes que saímos juntos naquela Brasília branca para irmos a cidade fazer compras. Eu tinha o quê, 12 ou 13 anos, e tinha que sentar num travesseiro que a mamãe fez para facilitar eu enxergar a estrada. Eu percebia que o senhor ficava feliz quando me elogiavam por ser tão bom motorista com tão pouca idade... Por isso, eu sempre me dediquei tanto em dirigir para que não deixasses de sentir orgulho de mim.
Hoje, de repente, me deu um vazio enorme, por isso resolvi escrever... Há tantas coisas das quais eu preciso te falar, Pai... Mas, não acho justo incomodar seu descanso com coisas miúdas e mundanas.
Deixa estar...
Só saiba que te amo cada dia mais e que, em todas minhas orações, agradeço a Deus pelo pai que tive e peço-lhe perdão pelos erros, pelas faltas, pelos excessos da minha ignorância em não perceber o tanto do Amor que me dedicavas.
O que nos separa é passageiro, logo, logo estarei frente a frente segurando tua mão e te pedindo a bênção.
Te darei um abraço proporcional a saudade que sinto, Pai.
Até breve.
Amo-te, sempre (e sempre é todo dia!)!