Carta Para Meu Amor 2

Dia mórbido do mês enfermo.

Boa tarde, meu amor. É entre prantos que te escrevo. Olha só: ainda não é madrugada e o meu coração já pede para lhe escrever, para desabafar, porque é somente em ti que sinto confiança e a liberdade de desabafar.

Hoje eu já acordei de tarde, porque não dormia a mais de 24 horas consecutivas. Pode chamar-me de louco que não doerá mais que este abismo. Pensei que depois de 12 horas de sono teria um dia normal, pelo menos para meu coração, mas não foi isso que me aconteceu. Escutar Boys II Men nessas condições não me parece, agora, ser boa ideia. É que os meus pensamentos, sonhos e desejos voam muito altos e eu não.

Em pouco tempo fiquei pensando em mágoa, rancor e ódio. Não parece ser uma coisa boa de pensar, eu sei. No entanto, foi o que minha alma me proporcionou neste dia lindo, onde eu tive que pagar minhas contas do mês; onde tirei de onde não tinha... Lá se vão alguns de meus desejos e sonhos... Tu os viste por aí?

Mas, não precisas te preocupar quanto os meus pensamentos, porque todos eles são somente pensamentos fugazes e que fogem como a brisa da manhã. E nem é sobre eles que quero falar na real; porque ódio eu não tenho. Mágoa? Ainda estou pensando no caso para ver se eu tenho. Talvez ela apareça no porvir. Rancor? Tenho certeza que também não tenho. Agora a dor...

Eu sei o que é dor. Sei o que é curar uma ferida e sei o que são seqüelas causadas pela dor. Sei o que ela pode fazer para o homem. Sei como é difícil. Às vezes dá impressão que ela nem sarou ainda. É que uma cicatriz é a marca de uma ferida; é que a cicatriz sempre será a lembrança de uma ferida... Quando vejo alguém que pode sofrer a mesma dor que a minha eu quero avisar. Sei que sou tolo, porque no fim das contas o culpado é sempre aquele que mostra onde está o erro e não aquele que errou.

Hoje eu sei, mais do que nunca, o que é tua dor, por isso desculpa-me por ser o causador de muitas delas. Talvez não possa compreender como tu compreendes em tua exatidão, mas sei. Aqui dentro é um doer constante que sorriso nenhum faz efeito; não sinto desejo por corpos sequiosos, beijos voluptuosos e as palavras ternas do alheio não passam de meras ficções. Tudo é um engano só. Acho que posso dizer que me tornei um cético.

Hoje eu tenho mais certeza do que nunca: estou morrendo mais uma vez. Quem morre não volta, todo mundo sabe disso. É mais um pedaço de mim que morre, ou seja, mais um pedaço da minha alma que fenece. O outro pedaço? É este mesmo que te escreve; este mesmo pedaço lacerado que no momento pranteia na solidão. E o que serei no futuro? Fragmentos de um homem? Fragmentos de uma criança feliz? Será que existe felicidade pela metade? Vai lá saber. Tudo parece cheio de bruma mesmo. Tudo que tiver que ser esclarecido um dia será, mas hoje: dói... E como dói!

Por que será que Deus me deu um coração que consegue perdoar os outros e não me deu um coração que consegue se auto-perdoar? Eu me flagelo! Sim. Me auto-flagelo mesmo! E não quero que me apontem (ou mesmo tu) o dedo para me acusar, porque já estou fazendo isto. Sei onde errei e não aceito o meu próprio erro. Então, para que mais acusadores? Para me dizerem o que já sei? Basta que me olhem e que me digam: aquele é um homem que reconhece os próprios erros. Talvez assim ficasse feliz por tentar buscar a punição justa para meu pecado.

Esta maldita lágrima que escorre agora em meu rosto plangente é o pus da minha ferida. Esta maldita lágrima não é de felicidade. Não vês meu rosto pungente? Que coração contente demonstraria infelicidade nos olhos? Ela é nada mais que uma doença crônica que eu não tenho certeza que será curada com um novo e cândido amor; porque está em meu âmago como se fosse câncer ou doença crônica que ainda não foi descoberta pela medicina atual.

Ver-te feliz me deixaria feliz por ti, mas, não posso ser hipócrita comigo mesmo, causaria uma dor em meu peito ainda maior. Não que eu queira te ver infeliz; não pelo fato de estares feliz, mas sim pelo fato de eu não ser o causador de tua alegria. Seria mais uma culpa que meu espírito (estado de consciência) me elucidaria com vigor, ele com certeza me diria: tu não és nada mais que mero pregresso.

Contudo, minha alma clama: seja feliz meu amor. Voe como aquele passarinho adolescente sempre quis. Só não te esqueça que tão longe por ti vela alguém.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 18/10/2010
Código do texto: T2564086
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