CICATRIZES
Larguei as camadas substancialmente químicas, lá onde esqueci todos aqueles nomes esquisitos. Senti dor por sete noites, e ainda me fere a agulha imaginária mais real que existe, furando como um verme sagaz.
Nitrato de imaginopropia...
ácido incomunicato neurasteulico...
Sofri à distância, apenas vendo-me acima de todas as infinitas possibilidades que não deveriam acontecer. Meu relógio sem horas, altas camadas estratosféricas. Vi as mãos, as quais estendiam dúvidas e carícias imprecisas, meu corpo, minha pele medieval. As mãos em que escrevia minhas estórias sem H, naquele livro preto de folhas secas, como o rio salgado que ainda não chorei.
Compulsões abstênicas...
ansiedade rotatória...
Sete semanas de sono profundo sem pregar os olhos. Um estranho tão familiar eu fui; a platéia já não ria, e ao invés de flores, papoulas e lírios, só sorrisos amarelos desfeitos... o possível e o impossível, nostalgia calcinada no peito. Alegria passageira, um trem fantasma sem medo. Amor de dicionário e raciocínios difundidos telepaticamente, tudo sem livros, sem espelhos metafísicos, somente luz e sombras no calabouço da mente.
O mesmo olhar, sem ar turvo, sem desvio ou cores demais. Um ser recém-renascido, com dores e cicatrizes. Caíram as camadas substancialmente químicas, mas, ainda à noite, minha pele medieval esfria...