"Eu ainda penso em você!"

O silêncio me deu medo, então abri os olhos no escuro.

Escutei o tic-tac do relógio e o assovio do vento balançando

o último galho da goiabeira.

Setembro passou com a lentidão desesperadora de um filme estragado.

Outubro e o horário de verão me deprimem, como os programas entediantes de domingo à tarde.

Estou afogada em perguntas de respostas fracas, feitas no final de uma carta longa e mal escrita, onde me devolveram uma liberdade que nunca cedi a ninguém.

Às vezes, sinto que escrevo como quem dá à luz, confessando meu amor num pedacinho de pena pontuda que arranha o papel, fazendo uns ruídos estranhos que parecem dizer: "Eu ainda penso em você!"

Projeto páginas e páginas de ideias, faço rasuras como rasurei o resto de vida em mim. Risco palavras fracas, pois essas a gente nunca risca. "É ruim perder você de vista", diz Ana, e eu apostrofei.

Usei aspas, letras coloridas, maiúsculas e febris.

Colei sorrisos em beijos que não demos, usei as palavras mais gentis.

Disse tudo de uma só vez,

ensaiei, poetizei "eu te amo" , e pedi socorro em inglês...

E assim as confissões saem completas, de um jeito que não consigo

de outra forma dizer. Persisto e assino, levantando a mão direita ao peito, em cima do coração. Não suplico, mas juro.

Não sei dessa vida qual é o preço, mas lacrimejo o teu nome

e lambo o teu endereço.

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 15/10/2010
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2559138
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