Felicidade
Um dia conceituaram-me a felicidade, disse-me que ela não existe por si só, diante disso inúmeras outras sentenças que me faziam viver sua existência. Nesta época cheguei a creditar em tal formulação, respirava com fidelidade aquele momento unívoco; nada era tão verdadeiro como o soar daquela organizada articulação de idéias.
Hoje, ainda tonta dos festejos de Baco, ao fechar os olhos e parar cinco minúsculos segundos, sinto pairar em minha mente milhões de latentes lembranças, sentimentos em fúria; começo a acreditar que poderia passar o dia inteiro assim, e seria simplesmente tudo... Tudo que sempre procurei ser, encontrar e viver. Seria a utópica felicidade materializada no fio de Ariadne.
Estava ali, bem na minha frente, era a resposta que eu procurava, ou melhor, estava em mim, tatuada em brasas alucinógenas, e quando por segundo distanciava-me da Terra, das fadigas rotineiras, acordei dos devaneios e saboreei o conceito sem fetiches. Sentia o vagaroso respirar de meus pulmões e o pulsar contínuo do meu coração, seria então feliz, por instantes ínfimos que se tornavam eternos com uma simples sensação, se não fosse à verdade sem cobertas, sem falácias, despida em doloso contra gosto.
Um mundo imaginário, paralelo a este, me fazia escutar o cantar dos anjos, recordarem as boas lembranças que por si só davam uma rasteira no tempo e impunham a sua superioridade diante dele, mas mundos irreais são como contos fantásticos, possuem tempo de duração, precisam de acontecimentos trágicos e cômicos, seguidos de um fim, de um felizes para sempre, que se perde no meio da abnegação ao que seja realmente felicidade.