A VOCÊ, ITALIANO!
Ao interessado,
Acho que foi há dois anos. Não quero ser precisa desta vez. Nunca deram valor a isso.
Bom, foi uns dois anos atrás quando fomos apresentados. Estudei filosofia com seu pai. Engraçado né? Ao ler esta carta, os leitores pensarão que sou o dobro da sua idade, mas sabemos que 2 ou 3 anos de diferença não faz importância, ainda mais que ambos tem a convicção de que estamos com nossas idades a séculos! Eu com meus vinte e cinco, e você com seus vinte e uns...
Eu estava sentada no escritório quando seu pai passou lentamente de carro acenando de modo gentil. Você estava ao seu lado quando perguntou: Você a conhece pai? E em silêncio você deve ter repetido as palavras que veio a me dizer uns meses depois, “Gabriella, eu te ‘namoro’ já faz um tempão. Sempre tive medo de chegar a você quando te via em algum evento da cidade.”
Hoje confesso que foi uma das coisas mais belas que já me disseram, e o mais legal é que foi sincero.
Depois me lembro do seu pai te levando até a mim para nos apresentarmos. Ele queria nos casar? Oh! Como você tremia de vergonha!
Passando umas semanas, nos perdemos.
Mudei para São Paulo, lembra? Quando voltei, de alguma forma nos reencontramos, daí fomos sair, conheci um pouco de maneira relâmpago sua família, você conheceu a minha... Temos algo em comum. Somos de família grande. A minha adora dar pitaco, e a sua? Isso a gente nem chegou a comentar.
Vendo o seu amor honesto por mim, revolvi não começar nada sério para depois não me sentir culpada por não ter aprendido a amar igual ou ser também digna com os sentimentos alheios.
Hoje, estou escrevendo esta carta para te confessar uma coisa, mesmo correndo o risco de espantar você da minha vida e a todos os ‘futuros’ pretendentes: Eu não acredito mais no amor. Nunca poderei amar alguém feito a gente vê na TV e nos filmes lindos, aliás, filmes estes que choro horrores. Não me odeie por isso não, se hoje não acredito ‘nesse’ amor, é porque algo fez com que eu duvidasse dele pelo resto desta vida, porém, não sinta pena de mim, eu não sofro mais. Só não posso fazer ninguém sofrer por tentar algo comigo esperando isso de mim.
Mas então Gabriella, você acredita em que, referente a um relacionamento? Oras! Acredito no companheirismo e na troca. Ninguém se ajunta atoa ou em vão. Todos querem algo de alguém. A vida é um comércio, nunca te disseram isso? Uns trocam a segurança financeira por bons ouvidos, sexo por uma boa companhia de aparência exuberante, conforto por conselhos, amizade por honestidade, força por alegria, família por farra em conjunto, e por ai vai. Mas amor? Amor você descobre que só sente por membro da família, e ainda temos exceções. Você sente assim porque de certa forma é condicionado a isso, afinal, foi criado laços de convivência e também o sangüíneo. Vê como é difícil dizer que ama o esposo, namorado, amante, assim por conta de uns anos de ‘ajuntamento’? Para depois se separarem e se questionar: Onde foi o amor??
É isso que me enraivece, entende? Você deve estar se perguntando o porquê dessa carta, mas agora já nem sei por que estou escrevendo, porém esta sou eu, a escritora, a musicista, a atriz que muitas vezes se perde em suas interpretações.
Ouça isso:
Eu quero um nome
Quero um amigo
Um homem que não me abandone
Quero compreensão
Alguém que acompanhe meus pensamentos
Que entenda meu coração
Quero uma história para contar
Um cara com quem discutir
Quero viver uma trama
Dessa vez sem medo de partir
Viu só? Escrevi agora um quase soneto RS. Quem admiraria isso? O último rapaz disse na cara mais dura para eu andar depressa com a música que me pus a tocar para ele. Ele parecia não gostar do meu lirismo. Aquela alma não sabe o que perdeu ao tentar me silenciar. Fiquei triste? Muito. Hoje me importo? Nem tanto, porque sei que hei de encontrar alguém que entenda minha alma artística, e farei desse campeão o merecedor do meu respeito.
Os humanos incrivelmente conseguem me tirar do sério, sorte sua não pertencer a eles.
E ai?! Posso cantar uma música para você?
Espero sua resposta naquele dia.
Um forte abraço,
G.