Dilacerante

Não imagino que estás sozinho, agora.

não penso em nada mais senão num homem, inteiramente nu e absorto em seus pensamentos obscuros.

estás onde? aonde? aqui, há tempos, não!

é quando tento enxergar além do vão da porta e escutar teus passos aproximando-se de mim.

já era a felicidade de ter você todas as noites, tão perto. doce e, ao mesmo tempo, selvagem.

é! acostumei-me à esta grossa maneira que tens de lidar com o que cerca-te.

hoje, é nada e nada mais senão chorar esperando tua volta.

teu corpo e teu sorriso triste.

teu dorso e teu falar ríspido.

és tudo que lembrarei para sempre, antes de tentar dormir e sonhar.

e sonharei contigo!

e povoarei-me destes sonhos estranhos, espelhados e tão nitidamente marcados...

encontrarei-te em todos eles.

n'alguns serás violentamente menino e n'outros, tristemente, homem...

tua tristeza exacerbada abala-me previamente.

era nas manhãs ao teu lado, quando, ainda dormindo, podias sorrir, calado. somente!

a tua lucidez pouco eventual torna-te errôneo e escandalosamente avesso a sentimentalismos.

tua lucidez faz de ti um ser pouco normal...

exageradamente amargo.

serás assim para sempre. penso.

não podes ver, ouvir ou sentir o amor.

o amor para ti é aquele fardo profano que queima aos poucos a alma humana.

e para ti mesmo, o que é a alma humana senão um odre raso?

o que seria o amor senão uma enfermidade humilhante?

homens verdadeiramente másculos não amam?

não!

tens assim, deste modo, olhado-me tanto surpreso,

indagando secretamente se inda amo-te...

amo, sincera e desesperadamente.

ainda e sempre!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 26/09/2010
Código do texto: T2521444
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.