O POETA É UM SER DIFERENTE

Já não é surpresa nenhuma para nós que fazemos parte desse recanto, em especial, cruzarmos com mensagens de alguns amigos à respeito do que acontece com suas obras postadas. Não raro, leitores costumam confundir obra e autor, o que acarreta uma invasão de privacidade. O fato da criação literária ser um ato subjetivo, portanto, internalizado, quando sua obra é colocada ao mundo já não o pertence, talvez seja esta a oportunidade que algumas pessoas aguardam, a de apropriar-se daquele material postado. O fato complicador desta situação é a interpretação que é feita dessa obra. Existem verdadeiras afirmações de que o que foi escrito pelo poeta é o que realmente se passa com ele, e isto não é de todo verdade. A matéria prima do verdadeiro poeta é o mundo e suas relações, é o imaginário bem trabalhado em sua inspiração que a natureza reservou-lhe. Fazer poesia é um dom, uma arte, um ato de criatividade acima de tudo, portanto, quase sempre o poeta é mal interpretado em seu ato de criação, pois algumas mentes confusas e doentias, e não são poucas, realizam seus delírios os mais profundos diante desse ato criacional, quando ao mesmo tempo, desrespeitam a privacidade daqueles, muitas vezes, expondo e fantasiando situações que levam a um constrangimento do outro criando até problemas particulares, daí o fato de alguns amigos escritores abandonarem este tipo de atividade artistica. Não sejamos assim tão indiferentes quanto a própria obra do outro, colocando em primeiro lugar uma situação de relacionamento particular, que muitas vezes nem sequer existe. O respeito deve existir sempre, antes de tudo. Acredito que aqueles que utilizam este espaço para irem além do bom convívio literário, e que pode ser gerado sim, uma verdadeira amizade, estão no lugar errado, não são poetas nem escritores, são oportunistas, uma espécie de monília, sempre a procura de infestar a vida de seus hospedeiros. Para concluir, um trecho deste poeta maior, retirado da obra Cancioneiro, de Fernado Pessoa (1888/1935), que condensa certamente tudo que pretendemos falar aqui:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

(...)

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 23/09/2010
Código do texto: T2515262
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