A ela
E foi assim, como Vinícius e Tom, rimando ''peixinhos com beijinhos'', que mergulhei nos teus olhos.
Meu bem... ah, meu bem!
Estou aqui, há um infinito de instantes, esperando um ressoar de sentimentos, uma única luz brilhar no meu túnel sem fim. Estou me acostumando a ficar longe das pessoas, sinto pena delas todas correndo feito doidas por esse mundo afora. Estou ficando velho e não vi o pôr do Sol, acho que tenho fechado meus olhos demais, perdido algumas coisas, falhado.
Sabe, meu bem, tenho notado como as noites andam escuras e frias, as estrelas não brilham mais como antes. Ontem mesmo apaguei umas duas ou três só por olhá-las. Acho que eu devia olhar menos para o céu. Ou mais.
Andei um tempo sem saber bem pra onde, me negando, enganando, buscando as sarjetas. Hoje, caminho com cuidado, evitando as surpresas e os campos minados. Meu bem, explodiram a casa toda, não restou um só brinquedo ou documento. Foi tudo embora daqui.
Ontem, a insônia me pegou. E sabe, trouxe de volta o perfume, os sons, o gosto do meu bem. Um aroma seco que desidratava me tirou as forças e cedi. Ouvia, sem parar, os ruídos de uma tormenta fortíssima. Bebi do mar o sabor da saudade.
Meu bem, por que é que o nosso tempo se perdeu mesmo?
Atiro pedras no lago aqui de dentro e desfaço as imagens que criei sozinho. Junto os pedaços do meu orgulho, do que restou, do que não vai regressar. Eu sei, meu bem, as portas estão trancadas, o ouro está guardado, os abraços já não são apertados. Ninguém aplaudiu o palhaço solitário.
Que coisa linda, que coisa louca o meu bem!
E é assim, meu bem, pela luz dos olhos teus, pela aquarela desse mundo, pelas tardes de poesia, pelas noites de boemia, pelos sonetos, pela arte, por toda a insensatez, por toda a minha vida.
Eu sei, eu sei que vou te amar.