Carta a um velho amigo que já se foi

Prezado amigo W,

Nesta manhã encoberta e sombria lembrei-me de você. Tantos anos já se foram, 1974, mas ainda permanecem comigo, bem nítidas, as lembranças das nossas andanças pelas noites, em busca de diversão, nos barzinhos e lugares onde sabíamos que encontraríamos nossas admiradas e admiradoras. Ainda não existia essa moda "ficar". Se você já não tivesse deixado este mundo, hoje, com certeza, já tería incorporado esse termo e díríamos meio às gargalhadas: como ficamos! Marcamos corações, mas, não há como mentir, também fomos marcados.

Jovens adultos que éramos, virávamos a noite sem sentir. Nossas conversas e brincadeiras com as meninas naquele barzinho chamado "Chimarrita", onde tínhamos nosso cantinho preferido,o mais escondido, a ponto de estabelecermos prêmios às melhores "streap-teasers", por trás das paredinhas humanas que formávamos. Mas como éramos ingênuos! O máximo que elas mostravam eram as calcinhas! E como isso divertia e excitava! Elas nos adoravam! Sempre nos esperavam ansiosas por nossa chegada. Umas vinham depois das aulas, outras, depois do trabalho, mas, habitualmente, às 21 hs, as que podiam, já estavam lá e ainda traziam mais amiguinhas. Tudo isso naquela nossa Cidade, NI, não tão distante de onde agora estou.

Nem sou capaz de lembrar-me do nome de qualquer uma delas, mas tão-somente apenas algumas fisionomias já embaçadas na memória pelo tempo. Eram bonitas, segundo nosso conceito da época. Umas mais atiradas e liberais, outras mais tímidas. Todavia, nenhuma delas recusavam nossos beijos, amassos e carícias, naquele meu fuscão vermelho todo equipado, com rodas talas largas, cromadas, toca fitas, descarga barulhenta Kadron, lembra? Como ele foi frequentado, às vezes com excesso de passageiros! Eu você e mais quatro! Putzgrlila, ser compartilhado por duas ao mesmo tempo, caracas? Parece mentira, mas nós sabemos que é verdade, isso aconteceu! E quando brincávamos de pera uva, maçã ou salada de frutas! Lembra que uma vez fizeram uma pegadinha conosco? Pedi salada de fruta e era você o apontado! Protestamos, assim não vale! E negociamos uma pera, pra não acabar com a brincadeira! Que tempos! Mas, a despeito de todo esse passado distante, devo dizer-lhe que já não sou o mesmo e nem penso da mesma forma. Aprendi a levar a vida a sério, mas, lembranças, são lembranças, por mais desbotadas que sejam. Nem de longe minha diversão tem aquele aspecto, nem caberia! Hoje tenho crenças que outrora não tinha. Acho até que, depois desse tempo todo, estou mais próximo de você, mas, creio que, antes de encará-lo de novo terei que passar por um "umbrauzinho" mal habitado, mas espere-me, que chegarei até aí, viu?

Cara, preciso conversar com você, sabe! Vê se me encontra qualquer dia desses em sonhos, afinal você também deve ter mudado e está até apto a me dar alguns bons conselhos! Vou ficar feliz em revê-lo!

Grande abraço, amigão!

Saudades,

Ivan.

Bandemaguz da Távola
Enviado por Bandemaguz da Távola em 19/09/2010
Reeditado em 26/09/2010
Código do texto: T2507506
Classificação de conteúdo: seguro