Pode virar poesia...
essa carta nasceu na montanha
onde voce desenhava pássaros
ela é como a água que congela nas rochas
e depois as faz rachar
(tem tanta culpa quanto à água)
não era voce quem tinha razão...
essa carta é que foi ingênua
ainda fecha os olhos e pensa em ti
(envia o desespero)
a luz do dia clareia ainda mais suas lembranças
passam perante seus olhos
com toda força da realidade
por favor, fique esperando na varanda
não sei para onde enviar esta carta
e não sei se vai querer recebê-la
(escrevo para mim mesma)
se acaso voltarem, as esconderei
junto às noites que não são contigo
junto à voz dentro dela silenciada
juntamente as coisas que não dissemos
matei todas elas
nessa carta brotam lágrimas
começam bem de leve
depois escorrem a maldição de relembrar
(são lágrimas de mulher, pertencem à mulher,
são sagradas)
naquela noite encontrei a carta
caída no chão, paralisada...
o amor opaco no papel envelhecido
(às vezes ainda sonho que sou a alma dessa carta)
por favor, deixem-me à sós com ela
nessa noite enterrei a carta
e afundei a alma no rio
(a carta dorme, sempre sua,
revirada na inquietude do querer)
Vania Lopez