A resposta possível
Não há como começar sem dizer que você tem razão... Há muito tempo não nos desejamos nem bom dia, boa tarde e nem bom nada.
Queria poder contar-lhe novidades, mas não há o que contar que seja realmente novo.
Penso que esvaziamos. Houve um esvaziamento quase integral quando paramos de sonhar, de nos apaixonar loucamente ou de amar suavemente, e me refiro a pessoas, fatos e objetos.
Já não nos surpreendemos nem com acontecimentos bons ou ruins e sabemos o quanto é péssima nossa falta de entusiasmo.
Assistimos aos mesmos filmes dezenas de vezes. Vimos crianças se tornando adolescentes e depois adultos e muitos já nos assustaram com suas idas sem volta. Restaram-nos as reprises e estas já foram tantas que passamos a nos sentir anestesiadas emocionalmente.
As comédias já não fazem rir, conhecemos todos enredos surrados e se há uma cena inédita, as cópias se multiplicam e se tornam também cansativas.
É, não há drama ou comédia que nos façam sair de nossos casulos minuciosamente decorados e os suspenses, estes perderam seu charme há tempos.
Tentamos muitas e diversas vezes nos enganarmos fingindo uma novidade, mas não durou o suficiente nem para um breve relato. Preferimos nos abstermos de emoções repetidas e inúteis as nossas decoradas moradias.
As minhas dores muitas vezes precisam ser abraçadas e sei que as suas também; talvez por ser assim é que já não nos buscamos com a frequência de antigamente.
Veja, há entre nós um antigamente que para sempre nos uniu. Hoje só podemos esperar uma troca constante de informações meteorológicas, porque se esvaziamos, implicitamente estamos abastadas de nadas.
Somos capazes de uma perfeita convivência social, mas entre nós jamais conseguiremos a superficialidade necessária a um simples bom dia.
Então só posso mesmo dizer agora que as transfusões de vida continuam constantes, que meu viver arrítmico persiste e sabe aquele amor? Apesar do meu mais absoluto descuido vive numa fenda do chão por onde passo e é tão verde que chega a parecer um insulto.
A vida continua acontecendo e não há como interferir sem que o ato de tentar já não esteja previsto no seu rascunho; é sim um tanto hilário, coisa que somente sua alma consegue compreender.
O clima, bem, tem variado muito... Num dia congelo e noutro queimo.
E então, como vai você?