Comunicação
Entre nós as palavras já se fazem desnecessárias, os sentimentos não precisam ser ditos para serem admitidos, e falar de saudade é pleonismo.
Não escrevo-lhe hoje para te contar como a vida têm sido dificil sem o sol para me guiar e a lua para inspirar. Não porque os dias tenham sido nublados, mas porque os únicos momentos que me senti realmente iluminada e aquecida foram quando encontrei seus olhos. As noites não foram menos crueis, era como se eu visse uma parte de mim no céu, acompanhada de estrelas, mas ainda sim infeliz, desejando um eclipse para poder passar alguns segundos perto do amor.
Escrevo-lhe hoje para contar que recebi sua mensagem que me enviou no olhar, no dia que nos encontramos, dizendo que sentia muito por não retribuir meu amor, mas que ainda nutria sentimentos por mim.
Naquele seu olhar não haviam apenas sentimentos, mas sensações. Naquele olhar havia mais do que carinho e respeito, tinha a impressão de que todos os problemas haviam sumido, tinha a certeza de não sentiriamos frio, nem mesmo na noite mais branca. Vi no castanho dos seus olhos, a segurança que eu preciso no meu dia a dia para andar de cabeça erguida, vi o motivo para ser feliz, ao invés de apenas parecer contente.
Apesar de terem sido poucas palavras, conheço cada gesto seu, cada toque e cada olhar, não importa se tenha sido por apenas um segundo, pois o tempo passa de uma maneira diferente para nós. Quando estamos juntos, presos nos olhares, nada mais interessa, nada mais existe e não temos mais problemas. A sensação é de segurança, de pertencer a algo, de ser importante, como se a vida ganhasse sentido.
A comunicação existe mesmo se não tivermos nada a dizer, mesmo se não estivermos falando nada e às vezes mesmo se estivermos a kilometros de distância um do outro. Às vezes tenho a certeza do que está se passando na sua mente, o problema é que normalmente não sou eu.
Podemos até encontrar outras pessoas que nos hipnotizem por alguns instantes, mas é sempre temporário, e quando o efeito passa e a solidão retorna, voltamos a andar de cabeça baixa esperando um milagre...
Hoje nossa história encontrou uma maneira diferente de existir, agora não somos mais só nós dois, a saudade e a distância já fazem parte de nós. Nesse novo capitulo, onde não estamos juntos, ambos escrevemos sobre a infelicidade e como a vida perdeu as cores, e como vemos o mundo embaçado pelos olhos marejados. Ambos escrevemos sobre como esperamos por um eclipse, que não sabemos quando irá acontecer, mas que temos certeza que cedo ou tarde acontecerá.