Durante anos a fio desaprendi a andar, apenas seguia teus passos, pisava teu rastro. Durante anos esqueci as respostas e buscava em ti intermináveis vezes o que me recusava a responder. E, perguntava, perguntava, perguntava...Durante anos ceguei para o mundo, ceguei para a vida, já que estavas inteiro no meu campo de visão, eras tudo que eu via. Eras o fim e o meio. Eras meu começo e meu fim.
        Durante anos me perdi na tua sombra, me perdendo do sol. Durante anos velei teu sono com meus olhos marejados de lágrimas, tamanha a emoção. Durante anos curei tuas feridas deixando minhas chagas abertas. Durante anos te entendi tão grande que me amiudei até quase desaparecer. E, te fiz acreditar que eras do tamanho do mundo, do tamanho que eu queria que tu fosses. E, á medida que eu te fazia, me desmanchava. Perdia o rumo, o prumo, a razão de ser. Anulei-me, me fiz transparente, invisível para não te incomodar. Perdi-me de mim. E, o medo de te perder assumiu ares de tragédia. Como respirar, como seguir adiante, como ver o dia raiar, a noite chegar, como continuar?
        E, quando enfim partistes, foi então que entendi que eu não era mais eu, senão o que restou de ti. Pouco ou quase nada para remendar, pouco ou quase nada sobrou, só uma dor desumana no peito a cada amanhecer quando te catava em nossa cama.
       Como seguir, se eu era apenas teu esteio...E, me acreditava manca. Me entendia cega sem teus olhos. Louca sem tuas respostas. Estava no fim do túnel, no fundo do poço.
       Mas, a dor, que imaginava eterna e fatal começou a sarar, deixando em seu lugar uma enorme vontade de correr contra o tempo como para recuperar o tempo estagnado. Um desejo de me sentir plena, de me sentir...de me acreditar inteira, de remendar minha alma. De recolher os cacos, de me refazer. E, me vejo sentindo o por do sol no meu mar, me vejo sentido a brisa marinha a encher minhas narinas, me vejo descobrindo que existem pessoas que receberiam todo esse amor que tenho para oferecer, de coração aberto.
     Renasço das cinzas na certeza que num amanhã próximo acordarei inteira, refeita, e que amarei, mas amarei muito,já que não sei amar em pedaços, mas amarei principalmente a mim.