CRIANÇAS
Era de manhã na Rua São Sebastião, o dia amanhecia calmo, um mormaço, neblinava sobre a várzea e os jumentos piados lateralmente nas patas caminhavam lentamente num sofrimento ritmado, os pescadores traziam suas redes nas costas uns com um olhar alegre pela noite passada, outros com um cansaço e um desânimo estampado no rosto, havia meninos nas portas das casas uns limpavam as remelas dos olhos da noite seguinte com a manga da camisa, outros mexiam com os jumentos e outros aproveitavam para soltar pipa ou pegar frutas no quintal dos vizinhos, as mulheres varriam as calçadas fuxicando e as crianças pequenas chupavam as velhas chupetas. Fora sempre assim desde quando eu me entendo por gente. Mesmo com muitas dificuldades os homens sempre marcharam em busca de uma dignidade, coisa que os pais almejam passar para os filhos apesar de todo sofrimento e de todas as dificuldades. Às vezes uma revolta pairam nos seus rostos, a vida lhe parece injusta com uma certa crueldade. Sonhar para os moradores do bairro sempre fora algo inalcançável, vivem escondidos esquecidos pelas pessoas, como em muitos outros bairros pobres, vivem da mesma profissão que lhes foi passado pelos antepassados.
Apesar de todas as dificuldades sempre houve uma alegria inerente, uma viveza nos olhares, cresci como se deve crescer uma criança, sonhando e ouvindo histórias fantásticas, correndo pelos campos desprovidos de tristeza, de rancor contra o mundo, apenas crianças pobres que sonham viajar e conhecer lugares.