Bilhete sem hora marcada

A hora vem e não bate a porta, a morte não pede licença para entrar. Ficamos perplexos, as perdas doem e sempre deixamos palavras não ditas. Mas não podia ser assim o último adeus ao meu amigo. Não queria escrever uma carta ou usar o telefone, muito menos o computador, pois seria algo frio e impessoal. Fiquei horas pensando como faria para despedir daquele que deu tanto sentido a minha existência além da Terra e do corpo presente. Precisava transcender para que ele sentisse toda carga de pensamentos bons que carregava dentro de mim e talvez nunca soube partilhar direito. O meu olhar dizia muito, mas foram tão poucos os nossos encontros...

Comecei a escrever, em doses alternadas de amor, derramei no papel dolorosamente toda a minha admiração e o carinho que sentia em um bilhete:

Amigo,

Quem sabe daqui mil anos nos encontremos em outro flash desta vida que passa ou ainda além. Vamos dar voltas nas nuvens, rever velhos companheiros e andar de mãos dadas. Depois flutuaremos no espaço e faremos das pedras estrelas para iluminarem nosso caminho.

Com amor,

Sua Amiga Eterna.

Assim terminei minha despedida e percebi que realmente não éramos deste planeta. Nossas almas se conheceram em paralelos do universo. O ser que estava perdido em mim se encontrou em um lugar mais belo e perfeito. Fechei o meu último adeus com uma marca de sangue, deixei jorrar um pouco de vida para que ele pudesse seguir livre e voar até achar um novo destino, enquanto permaneço contando as lágrimas e aprendo que neste mundo só há defeito se não sentimos amor.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 14/06/2005
Código do texto: T24490