° 'carta de amor' °
republicação
Esta carta deveria falar de amor, mas logo que comecei a escrevê-la notei que precisaria de tempo, muito tempo, talvez toda a vida para compreendê-lo, recebê-lo, aceitá-lo e finalmente, descrevê-lo. E eu não consigo, não vivi muitos anos, tenho apenas 26 verões, não pude encontrar todos os meus amores |ou encontrei?| e não sei da abrangencia deste belo sentimento simplesmente porque sei que não correspondo ao amor como deveria.
Sou egoísta demais para o amor, gostaria tanto de poder concretizá-lo que chego a tomar sua posse toda para mim, como quem deseja a mais bela flor do jardim do vizinho a ponto das mãos tocarem as grades para tê-la. E então olho para os lados |me certificando que o vizinho não está na janela observando| e a tomo pra mim, minha, tendo ali, em minhas mãos, a coisa mais bela deste mundo, fazendo dela só meu tesouro, levando-a a qualquer lugar, e admirando-a ad infinitum.
Mas com o tempo esta bela flor perde a beleza, porque sem a seiva, a rega, longe de onde nasceu, toda flor fenesce. E é assim com a pessoa amada. Ninguém deve ter o poder de posse, é necessário deixá-lo lá, em seu canto, onde ele se alimenta, respira, vive, e só por vezes ir até ele e admirá-lo. A criatura amada é indivíduo único, sujeito próprio, a ele só cabe o verbo intransitivo e os pronomes possessivos devem ser evitados. Jamais será meu, mas dedicará à mim momentos seus, que serão então, meus.
Porém hoje isso não me basta. E essencialmente por isso não me permiti, ao menos hoje, falar de amor. Hoje estou fundamentalmente egoísta, hoje gostaria de tê-lo aqui ao meu lado, AMOR, como minha posse, e se possível, acorrentado a mim, para que não conseguisse mais fugir. Egoísmo é a face negra do amor, eu sei, mas ao menos hoje, não consigo ser diferente...
No mais, não quero muito, porém o pouco não aceito também! Mesmo tendo consciência de que nem o AMOR sabe o quanto pode me doar... Somente posso desafiá-lo com minha melhor jogada, eu e meus encantos, ou a falta deles, e a clara intenção, AMOR, de lhe ganhar.
P.S.: Não fujas mais de mim...
POR ENTRE.AS.LINHAS: D´ELE.
Texto tão belo e eu, o único leitor a comentar. É fato que também me perco. Faço em caminhos de um querer egoísta cheio de vaidades. Logo, não sigo e não me liberto para sentimentos belos que muitas vezes nego.
Só a noite sabe de mim...
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Esta carta deveria falar de amor, mas logo que comecei a escrevê-la notei que precisaria de tempo, muito tempo, talvez toda a vida para compreendê-lo, recebê-lo, aceitá-lo e finalmente, descrevê-lo. E eu não consigo, não vivi muitos anos, tenho apenas 26 verões, não pude encontrar todos os meus amores |ou encontrei?| e não sei da abrangencia deste belo sentimento simplesmente porque sei que não correspondo ao amor como deveria.
Sou egoísta demais para o amor, gostaria tanto de poder concretizá-lo que chego a tomar sua posse toda para mim, como quem deseja a mais bela flor do jardim do vizinho a ponto das mãos tocarem as grades para tê-la. E então olho para os lados |me certificando que o vizinho não está na janela observando| e a tomo pra mim, minha, tendo ali, em minhas mãos, a coisa mais bela deste mundo, fazendo dela só meu tesouro, levando-a a qualquer lugar, e admirando-a ad infinitum.
Mas com o tempo esta bela flor perde a beleza, porque sem a seiva, a rega, longe de onde nasceu, toda flor fenesce. E é assim com a pessoa amada. Ninguém deve ter o poder de posse, é necessário deixá-lo lá, em seu canto, onde ele se alimenta, respira, vive, e só por vezes ir até ele e admirá-lo. A criatura amada é indivíduo único, sujeito próprio, a ele só cabe o verbo intransitivo e os pronomes possessivos devem ser evitados. Jamais será meu, mas dedicará à mim momentos seus, que serão então, meus.
Porém hoje isso não me basta. E essencialmente por isso não me permiti, ao menos hoje, falar de amor. Hoje estou fundamentalmente egoísta, hoje gostaria de tê-lo aqui ao meu lado, AMOR, como minha posse, e se possível, acorrentado a mim, para que não conseguisse mais fugir. Egoísmo é a face negra do amor, eu sei, mas ao menos hoje, não consigo ser diferente...
No mais, não quero muito, porém o pouco não aceito também! Mesmo tendo consciência de que nem o AMOR sabe o quanto pode me doar... Somente posso desafiá-lo com minha melhor jogada, eu e meus encantos, ou a falta deles, e a clara intenção, AMOR, de lhe ganhar.
P.S.: Não fujas mais de mim...
POR ENTRE.AS.LINHAS: D´ELE.
Texto tão belo e eu, o único leitor a comentar. É fato que também me perco. Faço em caminhos de um querer egoísta cheio de vaidades. Logo, não sigo e não me liberto para sentimentos belos que muitas vezes nego.
Só a noite sabe de mim...