SEDEX PRA O CÉU
Carta para meu pai.


Pai,

Ai, pai... Que saudade! Tenho tanta coisa pra te contar, mas sossega, Joãozinho, que eu não tenho pressa... Nada de pedir a São Pedro pra me levar agora. (rssss)


Muitas novidades na tua ausência... Eu estou escrevendo, pai!

Escrevo no Recanto das Letras e faço uma oficina literária. Em novembro, vamos lançar um livro na Feira do Livro, em Porto Alegre. Vamos, eu e outros integrantes da  oficina.
Também sou cronista no Jornal do Jaguar, na nossa terra.
Ah, meu velho, eu até sei o que tu dirias: ah, essa minha gorda! Pois é, acho que é praga tua, ando gorducha mesmo... De dieta, claro, sempre! (rsss)


Pai, acabei de voltar de Montevidéu. Andei na mesma 18 de Julho e na Praça da Liberdade, que conhecias tão bem. Por lá, contei as tuas histórias. Lembrei de ti trabalhando, com o paletó estufado de dólares da Casa de Câmbio, fugindo de um suposto ladrão que te perseguia, pra só bem mais tarde, tomar conhecimento que o camarada estava apaixonado pelos ojos verdosos del  brasileño... Y el brasileño es usted mismo! (rssss)  
Agora a moda é carregar dólares nas cuecas e, não é dinheiro limpo e também não é trabalho. Pois é, tu acertou em cheio nas tuas previsões relacionadas a política.

 
Antes que perguntes, claro que fui a um show de tango e, ao tocar La Cumparsita, eu e Verinha nos olhamos de longe, não foi preciso dizer nada. Nós lembramos de ti e do tio Manoelito. Duvido que a dupla “corda e  caçamba” tenha se perdido aí no céu...

Lembra, pai, que tinhas medo que eu não me adaptasse a aposentadoria? Fica tranquilo, velhinho. Nunca aproveitei tanto, nunca viajei tanto, nunca estive tão bem. A tua gorda sabe viver.


O lindinho do vovô já está formado, aliás, os lindinhos. Só falta a lindinha e falta pouco. Sentimos muito tua falta nessa ocasiões, nós todos. Sabemos o quanto gostarias de estar aqui.  Chorei, surpresa e emocionada, quando o Otávio teve que escolher a música pra tocar na hora da colação de grau. Ele escolheu um tango, pra te homenagear. De certa forma, estavas lá conosco. Um dia desses, ele mexeu nas nossas fotos e, colocou aquela tua, com uma traíra enorme, no quarto dele. A única coisa que sinto, é que, em vida, ele não demonstrava tanto o enorme amor que tem por ti. Talvez ele seja como nós dois, nunca fomos de muitas declarações, mas tínhamos certeza do amor recíproco.

Falando em amor, o coração vai muito bem, foi o que o cardiologista  disse... (rsss)  Brincadeira. Vai bem mesmo, de todas as formas.

Hoje é Dia dos Pais e, como tu sabes, meu velho, eu não vou ao cemitério e, pra mãe, continuo dando a mesma desculpa: tu não gostavas.

Eu sinto a tua falta, mas não sinto tristeza, sinto uma saudade boa. Foi muito bom ter nascido tua filha.

Até qualquer hora, mas que essa hora demore, paizinho... Como tu, eu gosto de viver e, às vezes, faço por ti, coisas que gostarias de ter feito e não deu tempo.

Feliz Dia dos pais!
Um beijão da tua gorda mimosa.


Tânia Alvariz
Enviado por Tânia Alvariz em 08/08/2010
Reeditado em 08/08/2010
Código do texto: T2425056
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