Carta a um Pai Ausente

Pai:

Hoje estou carente, a saudade bateu forte.

Nunca imaginei que em idade avançada, fosse sentir tanta falta de ti.

Eras o fiel da balança, a tua palavra sempre calma se fazia sentir

nas tempestades domésticas. Às vezes irritados, não as ouvíamos,

hoje, precisava tanto ouvi-las!

Sentimos o quanto lutaste para que não faltassem aos teus filhos o teto, o pão o agasalho, segurança das coisas essenciais!

Eras um simples agricultor, que como quem toca de ouvidos,

te aperfeiçoaste numa profissão muito delicada!

Com as tuas mãos rudes, mas firmes, trabalhavas o ouro e a prata.

Com anéis de nomes enfeitavas os dedos dos namorados,

com alianças de ouro ornavas os dedos dos noivos sonhadores,

com pingentes belos enfeitavas o pescoço das jovens donzelas.

Na cidade onde morávamos todos te admiravam pela tua competência,

honestidade e sinceridade.Tua palavra era uma só, não havia meios termos.

Hoje, serias uma "raridade", pois o mundo mudou para pior, nem a palavra do rei tem mais credibilidade. Em nosso Brasil então... A vileza, a mentira, os acordos escusos feitos nas caladas da noite, já se tornaram corriqueiros!

Gostaria de me exilar prá bem longe.

Talvez seja essa a causa da minha nostalgia, do desejo de falar contigo, de ouvir tuas sábias e serenas palavras.

O mundo está em crise, a nossa "casa comum" está desabando

sem que ninguém leve isto a sério! O que importa é apenas

"o tinir do vil metal" nos cofres de pouquíssimos!

Fico a pensar no teu exemplo, o melhor legado que tivemos,

pois estava além "do acúmulo de dinheiro", eram outros os teus valores!

Não eras rico, nem pobre, tinhas o suficiente para cada dia!

Entretanto, não foi isso desculpa para não empreenderes a difícil tarefa de dar aos teus filhos um Curso Superior, o que na época,

era privilégio só "dos ricos"! Mas teus filhos eram guerreiros,

imitavam o teu exemplo que ia muito além dos sons das palavras!...

Depois de formados, voamos em busca dos nossos sonhos, nossos anseios!

Para ti só um retornou, aquele que infelizmente a "repressão militar" massacrou. Este não decolou, mas contigo sempre contou.

Quando partiste, senti como eras necessário!

Tua esposa, frágil como uma criança, suplicava assistência. Teu filho que não decolou, delirava: ”acudam-me” estou sozinho!

Anos difíceis se seguiram, principalmente para mim, única filha!..

Sei que agora estás junto a Deus com a esposa que amaste e o filho

que foi sempre teu. Sei que esperas ver lá reunida toda tua família

pela qual com tanto desvelo lutaste. A fé que nos transmitiste,

com certeza, salvará a todos nós.

Até breve , Marcello querido!

25/08/2010 11:30 - Tunin

Lírica e cheia de emoção, endereçada a um Marcelo tão presente em vida! Parabéns pela beleza de missiva.

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10/08/2010 23:19 - Sonya Azevedo

Zaque, lendo teu texto,lembranças fortes, ainda não cicatrizadas vieram ao meu coração fazendo-o singrar nas lágrimas de saudade. Como dói a não presença! Sim, pois não é ausência. Creio na companhia iluminada que sempre nos acompanha. Abs,

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09/08/2010 15:31 - BRIDON

Oi zaque: Relembrar, principalmente aos pais que já não mais se encontram entre nós, é uma maneira singela de dizer à eles que nunca os esqueceremos. Bela homenagem,poetisa.Parabéns.Obrigado pela visita e comentário.Volte quando desejar. Abraços

Para o texto: Carta a um Pai Ausente (T2420005 09/08/2010 13:08 - Helenna Dinniz

Sensivel e profundo..parabéns pela belissima carta!!! com carinho bjus poesia

Para o texto: Carta a um Pai Ausente (T2420005 05/08/2010 14:04 - Romulo Oliveira

Que bonita carta!! me emocionei!! parabens!

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zaque
Enviado por zaque em 05/08/2010
Reeditado em 14/09/2010
Código do texto: T2420005