O grito que pulsa em mim
Eu poderia ser mesmo aquela adolescente maravilhosa, mas eu quero ser cruel. Sim, cruel.
Mas ver-me assim depende muito de como me olhas. Fazes-me ser cruel quando me percebes sem me notar.
Fazes-me cruel quando apontas o horizonte nublado querendo que eu veja os raios do sol por entre a negritude da tempestade. Em algum momento olhaste para mim? Em algum momento viste em meus olhos, minha alma, me ser...?
Não.
Viste apenas a amplitude do seu nariz projetando para trás a tua própria vida e tentando levar-me consigo, como se eu já não tivesse me desprendido de você. Fizemos isso na hora do parto, lembra? Cortaram o cordão umbilical da nossa alma. Deixaram sair um pouco mais de sangue para que fossem lavados todos os nossos laços. Eu senti doer, afinal eu era muito mais você do que você mesma. Mas agora estou fora, me jogaste para fora e queres que ainda veja pelo que percebes.
Sei que não sou tão cruel como foste e ainda continuas.
Quero ser cruel para poder sentir dor e não deixar que minhas palavras e meus gestos matem mais sentimentos e firam olhares. Quero ser cruel para saber o momento em que meu ego supera a razão e deixo de acreditar no amor e no perdão. Mas também quero ser cruel para que eu não morra dentro de mim mesma como assim o fizeste consigo mesma.
Amiga? Sabes bem o que sifgnifica ser isso?
Amante... amante da incerteza, do acaso, do infortúnio, da desesperança. Trágica eu? Sabes o que isso significa? Não quero ser eu a ensiná-la. Quero apenas que vivas, vivas muito para aprender que para os primeiros passos estão reservadas muitas quedas e para as quais só o tempo encerram as feridas e o aprendizado.
Eu estarei lá, no caminho, caminhando, paraleleando os casos, os fatos, mas eu somente, pois, como disse, quero ser cruel. Só assim verei a luz no fim do túnel.
Beth Ferreira