CARTA EM BRANCO
(Diário de Bordo, 2007)
Recebi ontem uma carta em branco. Era uma carta muito curiosa. Possuía um envelope colorido, de aves de bonitas penas no selo nacional.
Nunca tinha recebido uma carta antes! Confesso ter me emocionado ao ver o destinatário. Estava lá: “A Francisco Wilson”. O texto tinha belíssimas letras manuscritas.
Imaginei quem poderia ter enviado aquela carta (pois não tinha remetente), e o mais importante, o que poderia está em seu interior!
Com certo esmero, fui abrindo aquela carta. O papel era suave. Quem a escreveu deveria muito me estimar! (Pena que não tinha remetente!).
Fiquei alguns minutos manipulando aquele envelope já aberto. Então desdobrei a carta. Vi seu conteúdo e qual minha surpresa: era uma carta em branco! Todo aquele delicado almaço tinha tão e unicamente um título, o qual fazia muito sentido: “Carta em Branco”. Fiquei decepcionado!
O que diz uma carta em branco? Qual o valor de uma carta que não tem nada a dizer?
Era um envelope tão esplêndido! Tinha um papel tão valoroso! Mas de absolutamente nada vale uma carta em branco!
Minha decepção partiu então para uma reflexão: por que as pessoas estão sempre preocupadas com aparências sem dar muita importância para aquilo que realmente tem valor? Aquilo que realmente tem algo a dizer? Uma carta sem linhas escritas não pode ser considerada uma carta!
E porque as pessoas costumam ser como cartas, muitas vezes, sem linhas escritas?
Da mesma forma que de nada serve uma carta em branco, não servirá também uma pessoa seu conteúdo, mesmo que esteja por detrás de um majestoso envelope.
Contudo, mesmo não sendo uma carta em branco, uma carta, esta poderá vir a ser se nela forem anotadas algumas frases, então ela terá, além de uma adequada nomenclatura, uma importância!
E quanto às pessoas, uma pessoa “em branco” não tem identidade, mas pode adquiri-la se deixar de lado “o mundo das aparências", aprendendo de verdade sobre tudo de bom que a vida tem a oferecer, buscar a verdadeira essência das coisas e das outras pessoas. As pessoas, assim como as cartas, devem ter algo a dizer!
Recebi ontem uma carta. Ela estava em branco, mas me fez refletir sobre muitas coisas! A primeira é que não adianta ter um belo envelope se a carta não tem nada a dizer, e a segunda é que... Bem, antes ela em branco do que eu!
E você? Já recebeu alguma carta em branco alguma vez na vida?
Francisco Wilson Dias Miranda, 2007