Carta de um Pai Frustrado

Eu sempre tive vontade de me casar e ter filhos. Formar uma família era um desejo alimentado desde criança.

Posso dizer com orgulho que meu casamento foi perfeito. Tive um ótimo namoro, ficamos noivos, a festa foi deslumbrante e a lua-de-mel foi maravilhosa.

Assim, iniciei minha vida a dois com muitas alegrias, do jeito que eu sempre sonhei.

Mas, não tinha idéia que o nascimento de meu primeiro filho traria uma crise tão grande no meu casamento.

Eu e minha esposa tínhamos uma relação muito boa, entretanto, desde que nosso filho chegou, temos vivido um clima de estresse e cansaço.

Não sei entender o porquê, mas estou muito frustrado, o que me fez afastar de minha companheira.

Hoje vejo com tristeza que a sedução e o erotismo tão presentes no nosso namoro e nos primeiros anos de casamento se perderam. Nos últimos tempos o tédio e o desamor se instalaram em nosso cotidiano.

Logo nos primeiros meses de gravidez ocorreu um afastamento sexual, e com a chegada do bebê a distancia entre nós aumentou assustadoramente.

Não sei bem o que aconteceu, mas à medida que a gravidez de minha esposa evoluía minha libido foi diminuindo. O corpo dela foi mudando e o desejo por minha esposa grávida sumiu, o que provocou um afastamento entre nós. Dessa forma, a nossa intimidade e cumplicidade foram se extinguindo, o que deu espaço para que o desconforto imperasse no nosso dia-a-dia.

Quando nosso filho nasceu tudo piorou ainda mais. Ela passou a estar sobrecarregada e cansada em função de todos os cuidados que um bebê exige.

O humor de minha mulher mudou demais. Ela era muito alegre e sorridente e agora vive impaciente e irritada pelo acúmulo de noites mal-dormidas e pelos dias estafantes com as visitas demoradas de amigos e familiares, que geralmente não avisam que vão nos visitar e aparecem muitas vezes em horário inadequados.

Com a gravidez o corpo de minha mulher mudou bastante, o que é normal, mas mesmo já tendo passado um bom tempo ela ainda não recuperou a forma e a beleza que ela tinha antes da gravidez. Assim, ela passou a se achar feia, fazendo surgir um monte de pensamentos negativos, trazendo um clima de insegurança e fazendo aumentar o receio de ser traída.

Com a chegada de nosso filho fiquei com uma sensação de abandono e rejeição, pois antes eu tinha 100 porcento do tempo de minha esposa só para mim. Ter que dividir o amor e a atenção de minha esposa com o nosso bebê não foi nada fácil.

Sei que amo meu filho muito, mas quando penso nas perdas e ganhos de ser pai chego a ficar frustrado por sentir que o sacrifício da paternidade pode ser mais pesado do que posso suportar.

Vejo que não tenho estrutura emocional para lidar com tantas mudanças num período tão curto, o que me trouxe uma melancolia tremenda.

Não desejo que ninguém passe uma crise tão grande assim, e temo que a chegada do novo membro da família possa ser a razão do término de nossa relação.

Ando desesperado e desiludido buscando algo para poder salvar meu casamento.

São Paulo – SP, 17 de julho de 2010.

Alexandre Santos

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Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 19/07/2010
Reeditado em 20/07/2010
Código do texto: T2387370