A Olho Nu- “O essencial é invisível aos olhos”

Quando cheguei ao Instituto Louis Braille tudo parecia ser diferente e estar diferente.Era um clima novo,de um lugar que eu nunca tinha ido e imaginado que pudesse ser do jeito que é.

Lá, apesar das pessoas não enxergarem nada, ou apenas ter uma pequena porcentagem de visão, parecem que elas sentem a nossa presença e nos conhecem e sabem do jeito que somos ,sem que ao menos possam nos ver.

Elas são observadoras natas e muito calorosas. Quando lhes pergunto o nome, hobbies e atividades que fazem no Braille, são muito simpáticas e receptivas, me tratam como se eu já fosse da casa, e como se já me conhecessem.

Ficam curiosos e percebem como sou pela minha voz, meu jeito e pela forma que eu os trato. Querem me levar para conhecer o local e mostrar o que fazem por lá.

Logo, já me levam para fazer um lanche e contar os seus casos e acasos, dentro do Instituto.

Antônio Roberto Macedo diz que quer verificar meu tamanho, para saber se sou baixa ou alta, quer tocar no meu cabelo, para ver se eu tenho cabelo liso ou enrolado. Quer saber se sou morena ou loira, já que perdeu sua visão há um ano e meio e diz que eu pareço a sua nora, pela minha descrição e pelo tato.

Já, Devanir ensina-me às suas aulas de Soroban e outros métodos para cegos, conta da sua vida e de como é dar aulas para cegos de locomoção, sendo portador de deficiência visual.

Carlos me conta como é o seu dia a dia, suas atividades e conta que não é diferente do nosso, salvo algumas dificuldades que são superadas e enfrentadas.

Fátima, até leva sua nora ao médico, cuida dos seus afazeres domésticos e ainda me parece uma boa mãe, atenciosa pelo o que eu posso ver.

Depois, Devanir me leva para ver como eles pegam ônibus, como é para eles fazer isso todo dia.

E ainda tem o coral também, que cantam e encantam quem passa e vê,quem passa e percebe.

Tereza diz que adora cantar e que se pudesse até seria cantora, cantam “Galopeira” “Andorinha” e outras músicas de sertanejo.

Nesta hora, eles querem atenção e silêncio, para que possamos ouvi-los.

E não é que é agradável aos nossos ouvidos, todo ouvimos silenciosos, a cada música cantada, a cada melodia e cada toque de sanfona.

Lá, alguns ficaram cegos há pouco tempo, outros já nasceram assim, cada um com a sua história, o seu momento e sua dificuldade. Eles não querem se tornar grandes heróis, e muito menos que nós tenhamos pena deles, eles querem ser eles mesmos e fazer de cada um novo dia, um recomeço.

http://www.youtube.com/watch?v=A59B7q1R4pA

http://www.youtube.com/watch?v=yckx-VHKsUI

Valquíria Rego
Enviado por Valquíria Rego em 06/07/2010
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