Remanescências
Caríssimos
Não há muito o que dizer se não pensar na vida, mas também não há pouco se pensarmos no tempo e na história.
Essa é uma conversa meio filosófica, embora singela e humilde. É a história de um viver disfarçado, mutilado pelas agruras do tempo, que insiste em esquartejar as memórias. Mas é também a história de um largo, tão profundo que poderia envolver o mundo.
Hoje não sou... mas já fui!!!!!
Já fui artista, dancei, cantei, interpretei e vivi os mais complexos personagens. Cantei tão alto que me fiz ouvir longinquamente. Incomodei. Me fiz crescer no meio maior, encurtei espaços, podei galhos somente com minha presença.
Hoje o meu largo é esparso, mas o meu amor é profundo. Descobri um novo jeito de não deixar de ser. Descobri o amor pelo verde, pela cor das cores, pelo universo aberto. Descobri a natureza!!!
Passei a viver sentindo a essência de suas formas e cores, de sua força inigualável, de sua majestade infinita. SÓ Deus é a resposta!
Sim. Deus! Eu sei que ainda não o conheces, mas irás conhecê-lo, eu sei!
De onde nos vem o vigor? De onde nos vem a audácia de fazer mais do que nosso ego e braços conseguem fazer? De onde nos vem a vastidão da criação, capaz de fazer verso em tudo o que vemos?
Esse é o melhor dos sentimentos: a fé!
Disse antes que não sou mas já fui. Creio que hoje sou bem mais que antes, pois sou mais visível dentro de mim mesma. Tocar a criação faz de mim alguém certo de que vive, de que sonha e realiza.
Nesse largo sinto a força de um braço a me conduzir... ainda sou!!!
As memórias me deixam em constante contato com o passado que nunca deixa de ser presente em mim e sempre vai estar no meu futuro de uma forma singular. É o meu dicionário!
Assim, mesmo sem respirar nunca vou deixar de estar aqui, ali e acolá. Sempre vou fazer-me presente em cada flor, em cada cor, em pôr de sol, em cada verso às escondidas, em cada canto desentoado... cantarei aquela canção sempre! Jamais a voz será calada.
Preciso ir tomar posse do suspiro da minha alma doce, por isso despeço-me sem tristeza, pois amo e quem ama está sempre vivo.
Um abraço sincero.
Beth Ferreira