Porque deixo você.
Location: nowhere – Date: no day – addressee: you
Eu tenho estado esperando por alguém que nem existe. Eu não movo meus olhos com medo de perder algum acontecimento. Eu evito fazer ruídos que me impeçam de ouvir os murmúrios do mundo. Evito olhas nos olhos porque não quero a verdade. A que me diz, com olhos de pena, que não existe alguém por quem esperar. A que sussurra que não vai acontecer nada se ficar parada. E a que GRITA para que eu exorcize os meu demônios. A que pede que eu grite junto.
Procuro um motivo para gritar, não acho. A apatia rotineira deixa tudo azul, monocromaticamente azul, tranquilo e sem graça (ah, se ainda fosse o azul do céu, com sua parte de branco, de rosa, de laranja-pêssego). O costume que me sempre recusei a ter, faz parte de minh'alma e qualquer movimento inesperado me deixa em pânico. A adrenalina já não tem me feito tão bem, depois fica sempre um gosto amargo. Quero meus tons de cinza de volta. Algo me diz que eles me foram roubados. Me foi levada a distinção entre o meu pensar, o pensar comum e o ideal. Mas sei que minhas cores apagadas estão latentes aqui. Como uma ferida esperando que a encostem para voltar a doer.
Saindo desses devaneios, percebo agora quão medíocre me tornei. Portadora de mim mesma, me entreguei a um mundo que se encontra na rotina, na moral e nos bons costumes. Por isso, quero que entendas, não é por não te querer que te abandonei na calçada, com nossos cafés nas mãos. É por te querer demais que eu me tornei isso. E eu odeio o que você me fez querer ser. Eu odeio ter que corresponder a expectativas tão baixas, onde para ser feliz é preciso apenas de uma casa, um carro e uma pessoa (ou um cachorro). Mas ao te deixar, volto a ser o que era, mais vivida, quem sabe? Te agradeço por ter me feito voltar, mesmo que isso tenha mais de mim. Você é uma parte de mim, assim como todos e cada um que já passaram por aqui. Quero que me perdoe, não tenho motivos, apenas quero, talvez para tranquilizar minha consciência, talvez por me importar contigo.
Não sei bem como me despedir, então te desejo todo o amor que eu tenho e não pude te dar. Meu maior medo sempre foi o de me doar, quando o venci, eu me perdi. Entenda e viva, porque quebrar meu coração e te deixar foi a única maneira de me fazer voltar a viver.
Com carinho todo carinho que me é permitido ter,
Gabriela D.
p.s.: não creia que irei me matar. Sou demasiada orgulhosa para atentar contra o amor próprio que me faz te deixar. Só irei mudar de ares. Quero ser alguém melhor, para merecer algo tão bom quanto quem você é para mim. Não consigo aceitar que alguém me pertença sem que eu mereça.
p.p.s: eu ainda te amo, mas isso não muda a magoa que deves estar sentindo. E, talvez, por isso, nosso futuro não exista. Apenas o meu e o seu.