Dia de sol, país da ousadia, momento de intenso calor.
Dia de sol, país da ousadia, momento de intenso calor.
MARCUS VENICIUS FILGUEIRA DE MEDEIROS
Amados e amadas companheiros (as)
de sonhos, lutas e realizações educacionais...
Nascer pronto é uma limitação porque obriga
a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer,modificar.
Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e,
portanto, do passado; aprender sempre é o que mais
impede que nos tornemos prisioneiros de situações
que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Mário Sergio Cortella.
As palavras, muitas vezes, são como armas que aquecem o coração. Através delas podemos externar sentimentos, desejos, vontades, enfim, dizer o que está em nós, o que fazemos ou estamos realizando.
É nas relações entre elas que podemos desenhar afetos e desafetos, construir e desconstruir situações e mundos próximos/distantes de nós. Com este recurso nos possibilitamos a fotografar estados de coisas e estágios de momentos de ensino-aprendizagem; tateamos o mundo invisível e degustamos das relações de interação, socialização e diálogo.
As palavras possibilitaram o diálogo entre o AVIADOR e o PEQUENO PRÍNCIPE, estabelecendo entre os dois a comunicação e a palavra é comunicação e as palavras possibilitam o devir-a-ser instantâneo. E as personagens que não se percebiam e eram seres estranhos passaram a ser conhecidos pelo código lingüístico e o desconhecido passou a ser conhecido possibilitado pelas palavras.
A sala de aula é o desconhecido do professor. É seu campo de batalha mais íntimo. Lá se concentra suas angustias e desejos de realização. Seu palco particular onde é protagonista e antagonista ao mesmo tempo. Canta, encanta, é triste e alegre simultaneamente. O que aprendeu com os livros
pode ganhar vida, é lugar de vida, de ser vida, de fazer a vida acontecer na superação dos conflitos.
Que se pode encontrar detrás da porta a cada dia, a cada nova hora, a cada novo momento que a vida de magistério nos oferece? Seres?Pessoas? Estranhos? Conhecidos? Desafios... Assim também é o seu espaço de gratidão, de descobertas, experiências mútuas, sinestesia, vivência social e construção de sentido.
Cada dia em sala de aula é único. Nenhum dia igual ao outro, nenhuma aula igual a outra, nenhuma sala de aula igual. E a necessidade da clareza, da concisão e do entendimento aperta o coração cheio de incertezas. E haja palavras para entender tudo isso.
Fácil? Não importa, o importante e o resultado do processo.
Lembro, então, e é isso que gostaria de partilhar com os amigos e amigas. No exercício diário, busquei provocar a sala de aula de arquitetura com o estudo da linguagem. O que era a linguagem, como acontecia, as variações, enfim, a necessidade de provocar o uso da oralidade a partir dos atos de fala ali desenvolvidos nas relações diaLÓGICAS.
Percebendo a inquietação do estudo, propus uma atividade de produção de texto que iniciava da seguinte maneira:
Fizemos uma atividade chamada de raio x. Cada um agora era instigado a responder questões sobre si: nome, idade, sexo, signo, cor, filme, sexo, amizade, viagem... As perguntas provocavam respostas de uma só palavra, sobre questões pessoais; questões de ordem mais coletivas, provocando a construção de frases; questões de entendimento do cotidiano, chamando a responsabilidade de criar pequenos textos de construção de pontos de vista.
Para provocar a atividade, usamos o pensamento da biodança que diz ser o ser humano uma janela divida em quatro partes. A primeira parte, o espaço da subjetividade, o conhecimento do ser sobre si que ninguém além dele mesmo conhece. O segundo espaço, o conhecimento que o outro tem dele e é desconhecido de si. O terceiro momento que é o espaço da intersubjetividade, o conhecimento que o ser tem de si e o conhecimento que o outro tem dele. Um quarto espaço que é o espaço do desconhecido. Nem o ser sabe de si, nem o outro sabe dele.
Percebemos a cara dos alunos e a dificuldade que cada um tem de falar de si.
Concluída essa etapa, dividimos em pequenos grupos a turma e mediamos a atividade para que cada um pudesse partilhar com o grupo o resultado do raio x que cada um tinha feito de si. A atividade foi partilhada e o grupo deveria escolher um relator que iria ter a responsabilidade de agrupar
as informações do grupo . Em que eles eram semelhantes, em que aspectos eram diferentes.
Orientamos uma pesquisa sobre gênero textual e centramos o estudo nos gêneros jornalísticos. Cada grupo tinha como responsabilidade de construir um jornal com a cara do grupo. Cada um deveria assinar uma coluna do jornal e ser responsável pela concatenação dos dados fornecidos pelos integrantes do grupo.
Foi uma atividade gratificante porque os envolvidos sentiram-se responsáveis pelos processos de construção e realização do todo.
Daí a clareza do pensamento do Mário Sérgio Cortella de que não nascemos prontos, a cada instante somos conduzidos a uma nova realização e o trabalho com as palavras, com a língua e com a linguagem possibilita isso.
É através de uma metodologia, amados amigos e amigas de jornada de magistério, que nossos alunos se sentem motivados e instigados a desenvolver em si a condição de construtor, pesquisador de conhecimento.
Percebi a grandeza da atividade na socialização, quando cada grupo tinha de vender o seu jornal, de socializar e os depoimentos de que como até então eles estudavam juntos, mas eram totalmente desconhecidos. Nenhum conhecia na verdade quem estudava naquela turma, só depois da provocação da atividade passaram a ter uma visão mais intimista dos colegas.
Pois é, que a vida e o exercício do magistério sejam sempre a possibilidade de se construir um cidadão comprometido com a vida intercidadã.