Uma carta de D. Juan de Marco a alguém, uma linda mulher...
Escrevo esta carta com a tinta do meu próprio coração,
Faço estas poesias como quem escreve com as lágrimas...
Sou um apaixonado pela vida, tenho gostado desta existência,
Sou enamorado pelo amor e por tudo que é bonito em nosso viver...
Arranco do meu peito as frases como gotas de orvalho,
Como pingos da geada num frio intenso...
Tudo começou na minha cidade de Sevilha, na Espanha,
O lugar onde eu nasci e cresci...
Quando eu era infanto-juvenil, tinha meus doze anos de idade,
E ia para alguma festa, os quais todos os anos se fazem,
Eu fazia muito sucesso com as garotas...
Nos dias em que havia aquelas festanças de fim de ano,
Lá estavam as meninas brigando por mim...
Deste modo eu fui crescendo mimado pelas meninas,
Muitas moças eu conheci que me fizeram ficar do jeito que sou...
Se existisse destino eu diria que fui projetado para tal vida,
Se houvesse a sina de cada um eu teria uma igual a essa...
Fui aprendendo a como me portar diante de qualquer situação,
E não me assustavam nenhuma ocasião...
Como eu tinha uma bonita voz para cantar, eu vivia disso,
Minha profissão era entoar canções na noite...
Sempre era contratado para alguma casa noturna,
Ia constantemente a festas maravilhosas...
E sem me aperceber eu conhecia muitas mulheres,
Elas ficavam a me olhar de maneira admirada...
Assim eu me envolvia facilmente com muitas,
E estas se encantavam com meus atributos...
Estes são os dizeres, palavras de algumas moças:
“O beijo é a única música que faz esquecer as lágrimas,
Beijar é como o cantar do rouxinol...
E você é único e, portanto, inumerável,
Não há gente igual à sua pessoa...
Eu só queria amor, amor e mais nada...
Desejo o sentimento verdadeiro...
E dor de amor que não passa é porque o amor valeu,
Aflição cega que não vai embora jamais...
Eu não devia amarrar o navio a uma só âncora,
Nem a vida a uma única esperança...
A paixão é para mim o ato de ficar no ar,
Antes de mergulhar, como alguém que vai precipitar de um abismo...”
Assim, eu prosseguia minha vida,
Continuava tendo muitos “casos”...
E sempre que a moça dizia “eu te amo”,
O amor se desvanecia em mim,
E eu implorava para não dizer isso,
Nem nunca expressar-se com tais palavras...
Mas elas não me obedeciam,
E subestimavam a veracidade dos meus alertas...
E desta forma eu estava a toda hora com uma mulher diferente,
Jamais estava com a mesma por muito tempo...
Talvez fosse culpa minha realmente,
Sentia-me mal comigo em todas as vezes...
Mas era inevitável isto deixar de acontecer,
Ocorria a mesma coisa em todas as ocasiões...
O amor? Pássaro que põe ovos de ferro!
Amar alguém? Ave dos produtos do aço...
É por isso que o amor não envelhece...
Morre menino ainda...
Se as penas com que o amor tão mal me trata,
Se a escrita que o sentir me arrebata,
Permitirem que eu tanto viva delas,
Que veja escuro o lume das estrelas
Em cuja vista o meu ser se acende e mata...
Diziam que eu era um ser sem sentimentos,
E que apenas brincava com os corações femininos...
E que um dia eu iria sofrer muito,
As agonias profundas no peito...
Nuvens cobririam as tempestades,
Como tufões violentos e arrasadores...
O vento traria um doce amor,
Que esmagaria o orgulho mais enraizado,
O tempo viria com um encanto,
Porém, distante da emoção mais remota...
Negue-me o teu carinho!
Deixe-me o teu olhar...
Mas viva assim sem respirar...
O mesmo ar que tem comigo a sonhar...
Descobrir toda a ternura...
No exalar molhado de uma flor...
Uma faca cravada na minha dor...
Que é tudo mentira... amar é pouco
Pelo que diz meu coração...
Tudo ruim demais para suportar,
Pelo que há no âmago mais profundo...
Como o oceano, cheio de conflitos...
Como um rio que leva as impurezas da terra...
O tempo passa e não apaga,
É como o vendaval que veio dos mares antárticos,
Como um furacão arrasador para o íntimo de um ser...
Eu vim trazer-te esta chave, uma antiga de piano e bonita,
De ouro velho, mas bela como tua pessoa...
Ela é um símbolo de mim mesmo,
O sinal do meu próprio coração...
Enfim, é a chave do meu coração...
Com ela se abre as comportas dos meus sentires...
O que farás com tal presente?
Diga-me o que sucederá em tuas mãos tal coisa...
Fala-me que abrirás a porta dos sentimentos,
Que entrarás adentro de um amor perfeito...
Você é a única mulher que me faz ter vontade de viver,
Quero um amor infindável como o universo...
Repleto de estrelas coloridas,
Reluzentes corpos celestes...
O amor só possui uma palavra e, dizendo-a sempre,
Não a repete nunca...
E esta amizade é como a música: duas cordas vibrando,
Porém se ouve uma única nota...
Quando estou perto de você eu vôo nas nuvens do céu,
Sou um pássaro veloz por entre as montanhas...
Assim eu prosseguia minha vida,
Sem jamais encontrar a mulher certa,
Uma que fosse satisfatória para toda a existência...
Eu até que queria realmente...
Mas era difícil encontrar uma que me fizesse amarrar...
Eu tinha um coração duro como pedras fortes,
Meu sentir era feito de metais pesados...
E havia paqueras passageiras,
Moças que se extasiavam por poucos instantes...
Não havia amor verdadeiro,
Nem genuíno sentimento acalentador...
Como as ondas do mar, como o rio que passa,
Que leva e traz as coisas do solo produtivo...
O mar salgado que tem sua frieza,
Como o frio do Ártico, o pólo norte...
Como o planeta Plutão, que até deixou de ser planeta,
De tão longe e gelado que é do Sol incandescente...
Assim era meu coração sem vida,
Mimado por muitas vozes femininas...
Assim era o meu sentir mais remoto,
Envaidecido por muitas senhoritas...
Eu sonhava encontrar a mulher especial que me traria todo contentamento,
Eu tinha os devaneios de todo rapaz jovem anseia em seu viver...
Achar a pessoa que me completaria...
Mas eu era viciado em paquerar...
Não podia aparecer uma nova mulher bonita,
Que lá estava o meu olhar para ela...
Eu dizia mil coisas lindas do meu coração...
Como elas gostavam do que eu dizia...
Falavam que nunca tinham escutado tais palavras algum dia...
Eu era um boêmio, um conquistador voraz...
Dificilmente era fracassado, bastavam poucas palavras,
Eram poucas as expressões minhas e lá estava com alguém diferente...
Só que tudo tem um preço,
A ganância tem seu salário...
A fama de conquistador sobe aos poucos...
Logo é como a barriga da mulher grávida...
Cresce sem parar, até dar à luz um lindo bebê...
Ter o conceito de conquistar é tão ruim
Como ter um nome sujo no mercado...
Quem conhece já não mais cai nas mesmas armadilhas,
Nem o conquistador trilha nos mesmos territórios...
Por que sou infeliz? Qual a razão de tamanha tristeza?
Falta a sinceridade dentro de mim... a honestidade
De ser um homem só, íntegro a si mesmo...
Um vazio cobre o âmago de meu peito,
Falta uma esperança verdadeira...
Morrerei sozinho, sem ninguém para me dar aconchego,
Não terei família jamais para ter o amor tão belo...
Para expor amor a filhos amados e apreciados...
Sou sim infeliz dentro de mim, embora muitos tenham inveja sim,
E eu bem sei o quanto há ciúmes nesta vivência...
A verdade é que ninguém pode contar vantagens de muitas conquistas,
E não há privilégio algum em ter muitas mulheres...
Tudo é passageiro como um mascar de chicletes...
Como um pedaço de bolo a comer...
Ter coragem de entrar numa relação séria,
Que envolva toda uma sociedade,
Aprovação de pessoas de toda a parte...
Ninguém é de ferro...
Precisa ser mole de vez em quando...
Aceitar as diretrizes da vida...
A existência não é feita de aventuras...
Além de tantas brigas causadas pelas rixas,
Seres ferozes que são beligerantes por sua caça...
Amizade dada é amor,
E muita simpatia por alguém é sentimento intenso...
Dizem que qualquer maneira de amor vale a pena,
E que não é fútil amar alguém...
Preciso disto para viver...
Não sou alguém tão diferente assim...
Quem anda junto é mais difícil se perder,
Mais fácil é cair num laço sozinho...
Falam que o grande amor se contenta com pouca coisa,
E que não é necessário ter tanto para um sentir mais nobre...
Quero deixar de ser o conquistador,
Desejo ser conquistado!
Só o poder do amor tem força para anular o amor do poder,
Somente a paixão mais ferrenha é capaz de cegar o homem de poder...
E tanto se perde com amor demais como com amor de menos,
Ter tanto amor é péssimo, arrasador,
E também ter pouco amor é uma espada amarga, sufocante...
Não tenho mais vôo para tudo que amo,
Não possuo mais horizontes...
Sou um deserto dentro de mim,
Meu coração é um ermo desolado...
Não há gramas, nem plantas verdejantes...
Não existe águas profundas, nem oceanos extensos...
Lutar contra o coração é difícil, pois se paga com a vida...
Desafiar o sentimento é duro demais para se viver...
O valor de uma vida se mede pelo grau de paixão que a habita,
E estar enamorado por algo é o que se tem por medida de alguém...
Visto e ouvido tornam luzes e sons mais confusas vibrações no espaço...
O mesmo com o coração que ama: sem ele nada mais sou que um punhado de terra espalhada no universo...
Nada mais que montículos de pó, sou sem o amor verdadeiro...
O amor é a luz que não deixa escurecer a vida...
É a fonte de energia que não apaga as esperanças...
A felicidade é a tênue fronteira entre o pouco e o demasiado...
Ser feliz vale a pena para quem tem equilíbrio...
Por fim, para nós há mais coisas que procurar neste pequeno coração faminto do que em todas as estrelas do céu...
Existe mais transtornos a achar neste sentimento sedento do que em todo o profundo do oceano...
E falam que a alegria é o termômetro do amor,
Indica o quanto estamos encantados...
Um dia serei feliz, encontrarei a mulher dos meus sonhos...
Acharei aquela que tem amor devastador dentro do peito...