Amor em pupa... = /
Sinto estar numa crisálida breve a romper. Mas o frio lá fora me impede. Pede: espera! Sinto que o espaço já não me comporta. Por favor, abram portas e janelas. Deixe o frio entrar e me congelar ainda assim na pupa. Esvair-se-á tal vida, mas lá estará a prova de minha existência. Que por ausência de paciência fez perecer a linda borboleta que iria agraciar as flores e polinizar a vida onde quer que fosse. Foi assim o nosso amor, ficou na pupa dos acontecimentos. Não brilhou e nem bailou. Não rompeu as barreiras e nem superou as dificuldades. Não foi eterno e nem guerreiro. Tinha a doçura, mas esmagado foi pelo temor de um dia tornar-se grandioso. Foi trancado no frio de sua indiferença. Morreu tenra a esperança que um dia á mim ofereceu. Nas noites gélidas, derramo lágrimas quentes, num clima que petrifica a alma. E nem meu anjo me acalma, só vigia cuidadoso, ao lado de minha cama. Afagando os cachos, e a secar os olhos marejados, com mãos perfumadas e invisíveis. Sim, sinto o cheiro das rosas do jardim onde ele esteve. Cobre-me a aura com pétalas turmalinas, gotas de balsâmica luz que chegam a iluminar meu quarto por instantes tão breves, que acharia estar em devaneio.
Digo ao anjo que cante pra que eu adormeça e perdoe minha alma. Se achega pertinho de meus pensamentos, murmura uma oração e o sono vem como o pôr-do-sol dos acontecimentos.