Carta de um imigrante italiano à sua mãe

Carta

Carta de um imigrante italiano, em 1892...

Partirei esta noite, minha mãe. Irei para bem longe. Muitos estão indo para um novo mundo. Promete-se uma nova vida e terras extensas para plantar e para colher. Deixarei a saudade ficar amarga, porque talvez eu nunca mais volte a este lugar. Não sei o que me espera. Talvez haja coisas boas no novo país. Escolhi ir para o Brasil, bem sabes. Não sei falar o idioma deles. Vai ser difícil no começo. Mas tantos já foram para lá, e conseguiram sair-se bem. Aqui não tem maneira de ficar. O solo é ruim para se plantar. Lá eu poderei ter um belo pomar, e as plantações serão extensas. Não fiques com saudades de mim. Lembrarei de escrever muitas cartas para ti.

Deixarei meu pai, meus irmãos e a ti. Levarei minha mulher, e meus quatro filhos. Eles estão ansiosos para viajar de navio. Minha mulher não queria ir, porque também teme nunca mais ver seus parentes. As crianças, porém, estão eufóricas. Acham que lá vai ser maravilhoso. Luigi é o mais entusiasta. Ele não gosta da Itália. Somos muito pobres aqui. Lá nós teremos um terreno grande, conforme foi prometido pelo governo brasileiro. Haverá espaço para fazer uma nova vida.

Nicolas está um pouco receoso de ir, como sua mãe. Ele tem muitos amigos por aqui. Acha que não vai poder encontrar novas amizades. Que vai ser duro conversar com os brasileiros. Mas eu falei que lá têm muitos italianos, que já foram morar naquela região. E que poderá encontrar novos amigos. Precisamos ir, é uma oportunidade que nos foi dada.

De início, terei de trabalhar numa ferrovia, conforme já fui contratado para isso. A ferrovia sorocabana, como é chamada por lá. Mas já ganharei um pedaço de terra. Terei de erigir minha própria casa. Ainda bem que tenho forças para isso. Não é fácil viver em lugar algum. No entanto, tenho o entusiasmo igual ao de Luigi. Vamos construir tudo novamente. Vamos ter tudo novo.

Deixo, assim, meu amor por ti, minha mãe. E a saudade que virá de todos. Acho que nunca mais vou vê-los. Manda um abraço ao meu pai, Bernardino, e a todos.

Para Leticia Caprioni, mãe de Agostino.

(Carta fictícia, embora Agostino seja meu bisavô, e Leticia Caprioni minha tataravó, fiquei imaginando como foi a distância e nunca mais se verem.)

Wanderson Benedito Ribeiro
Enviado por Wanderson Benedito Ribeiro em 13/06/2010
Reeditado em 13/11/2013
Código do texto: T2317162
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