Eu labirinto
Eu só lembro que eu estava lá, era triste...
Era tudo tão perdido. Naquelas manhãs cinzentas eu acordava intranqüilo, não perdia um momento sequer de torpor. A gente sempre esquece algum detalhe, sabe, demorei muito pra entender. Atulhei-me de um sentimento novo, quando a cor da minha carne ardeu... Sempre preferi morrer um dia antes do fim. Já não sei se muita coisa aconteceu. Vejo os quadros tortos na parede. Não consigo entender nada do que dizem a minha volta. Nossa, como era triste aquela antiga revolta. Tanto sentimento pouco! Um dia era frio, um dia era quente e o tempo todo era louco. Eu saia de casa e o ar pesava. As ruas se faziam vazias, e até os bandidos se amedrontavam. Minha tristeza me acompanhava. Na falta de luz, em todos os rostos, sentada na escada... Eu nunca dormia e sempre acordava. Não sofria, não odiava e nem amava... Tanto sentimento pouco! Olhava as pessoas trancadas em suas casas.
Só lembro que eu estava lá, ainda vivo, mas muito morto.