O amor do velhinho
Querida,
se me calo ponho tudo a perder, quando falo, sinto muito, toda vez eu sinto que não devia. A gente tenta entrar na mesma hora no carro, e sair com tudo, rumo ao que a gente quiser por alguns minutos, mas não é possível se arriscar sem perder o medo de morrer, sem perder o medo de perder. Agora me sinto um pouco pior do que antes, e um pouco melhor que sempre, mas isso não é suficiente.
Preciso te dizer com as palavras que posso. Para você virou questão imensurável, e para mim, irracional. Não se fazem ensaios para o fim, acontece, e o depois da estréia é a lida, é vida. As palavras me ajudam, me matam, me fazem de bobo. Eu abro meu coração e um trem não sai, abro minha grande boca e solução não sai, abro meus braços e não perco a cara de palhaço. Mas eu cresci com você, e se eu nunca te conheci, os dias ainda podem fazer algo bom pelo bem que a gente fez, reconhece. Ficar aqui não é bom pra nós, a gente tem que ir, os mistérios estão lá pra nós.
Antes, esquecer a chave era charme, hoje é sinal de demência! entende?
Como dizer isso? Antes eu falava de algo que você entendia, ou imaginava, fazia algum sentido ouvir palavras soltas.