CARTA ABERTA ( REFLEXÃO SOBRE MINHAS HORAS TRISTES)

Por ocasião do texto “MINHAS HORAS TRISTES”, recebi dois e-mails externando preocupação com minha suposta tristeza. (Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza – já dizia nosso querido Vinicius de Morais).

Fiquei muito contente em saber que essas pessoas estavam preocupadas comigo. Por outro lado, a questão da felicidade, da alegria e da tristeza sempre esteve presente em meus textos. No entanto, minha luta é no sentido de se reconhecer tristeza e alegria como sentimentos inerentes ao existir humano. Faz-se mister, portanto, aceitar os dois sentimentos e deixá-los coexistirem pacificamente em nosso interior. O que não procuro fazer é superestimar a alegria ou subestimar a tristeza.

Quando olho belas flores de primavera encanto-me e exulto de alegria e quando as vejo murchas me dá assim um certo sentimento de tristeza por vê-las frágeis e abatidas. Qual dos dois sentimentos é mais belo? O de alegria ou de tristeza?

Disseram-me, num dos e-mails: “ Olha, me telefona. Afinal você está triste. “ Não estava triste, apenas me sensibilizara com uma história de depressão. Eu que já experimentara por vários e seguidos anos esse sentimento não poderia ficar alheio ao sofrimento da pessoa que me contou de sua “profunda tristeza”.

Não sem antes agradecer a preocupação do remetente pois não costumo ser ingrato , esclareço, que no texto em questão escrevi sobre tristeza, não sobre minha tristeza, muito embora o texto sugira isso. . Usar a primeira pessoa neste caso é apenas recurso artístico; seria como se eu quisesse extrair a dor apossando-me do sentimento alheio. Quando escrevemos o fazemos em solidariedade ao nosso próprio sentimento ou em solidariedade ao sentimento de terceiros. Neste caso prevaleceu a segunda hipótese.

Odair Perrotti
Enviado por Odair Perrotti em 02/06/2010
Código do texto: T2294445