Carta de um Monstro

Quando paro para pensar na vida que eu tenho, eu chego mesmo a pensar que vivo um pesadelo de olhos abertos.

Todo dia eu espero que vou acordar assustado no meio da noite e chegar a conclusão que tudo aquilo que se passa em minha vida é apenas um sonho ruim, mas tristemente esse fato não acontece. E, para azedar ainda mais meu viver, vejo que cada dia que passa o inferno se torna mais real em mim.

Eu vivo uma vida dupla, o que me faz sofrer demais. E, o pior de tudo é que eu não sofro sozinho, pois tudo aquilo que faço só tem um objetivo que é causar sofrimento e traumas às pessoas que estão à minha volta.

Eu sou um monstro, e sei que não mereço compaixão de ninguém. Às vezes, em alguns poucos momentos de lucidez, vejo que o meu comportamento não é normal. Sei que um ser humano normal não é capaz de fazer as coisas horríveis que tenho feito ao longo de minha vida.

E, além de ser um monstro, eu também sou um baita de um covarde, por que mesmo já tendo oportunidade de tirar a minha própria vida nunca tive coragem de fazê-lo. Sei que se eu fosse extirpado desse mundo isso seria um presente para humanidade. Pessoas como eu não deveria existir !!!

Lembro que tive uma infância normal. Sempre fui bem tratado por meus pais e demais parentes. Era um bom aluno na escola e nunca me envolvi com coisas ruins. Mas, também não sei explicar como esse comportamento doentio se manifestou dentro de mim.

Só recordo que na adolescência eu fui desenvolvendo aos poucos uns desejos estranhos que me faziam querer molestar crianças. No início achava que aquilo era normal, mas à medida que o tempo passava via que aquilo era algo macabro.

Eu até cheguei a iniciar uns namoricos com algumas garotas com idades próximas a minha, mas com o passar dos anos o câncer foi se alastrando por minha mente, fazendo com que aumentasse minha atração libidinosa por meninos e meninas de pouca idade.

Era como se um espírito maligno entrasse no meu corpo e me levasse a cometer essas insanidades.

Nos primeiros momentos que os pensamentos chegam a minha mente eu reluto um pouco, mas por mais que eu lute não consigo me controlar. Assim, quando menos espero já estou aliciando criancinhas com balas, bombons, figurinhas, chaveiros, brinquedos etc. – tudo com a meta malévola de abusar sexualmente deles.

Hoje eu vejo que ao longo de minhas práticas já destruí inúmeras vidas indefesas. E, tristemente, tenho que admitir que muitas das minhas vítimas foram trazidas à minha casa por familiares que nunca desconfiaram das práticas que eu submetia essas crianças.

Sei que as crianças são seres humanos indefesos, que não conseguem se proteger sozinhas dos laços e armadilhas que pessoas como eu lhes prepara. E, amargamente, assumo que esse é mais um dos motivos sórdidos que me fazem sentir prazer quando as levo ao meu leito de horror. Dessa forma, vejo que a ingenuidade delas é algo que me torna mais forte e viril, como se o ódio e o desprezo pela essência humana corressem em minhas veias, chegando ao meu genital para consumar as piores perversidades que a mente pode criar.

Estou usando esse espaço para desabafar, como um meio de trazer um pouco de alívio para minha alma atormentada. Não tenho sossego por nenhum momento, e não sou homem o suficiente para me entregar a justiça.

Não tenho forças para vencer esse desejo incontrolável de abusar de crianças, o que me faz admitir que é grande o risco de que eu faça mais vítimas.

Às vezes fico imaginando se uma de minhas irmãs ou alguma prima tivesse sido abusada por um monstro como eu, não teria dúvidas em tirar-lhe a vida. Sei que isso que faço é uma aberração da natureza, mas só consigo ver isso nos poucos momentos de lucidez que tenho, como agora.

Não tenho forças para me livrar dessa dor, e agora só posso me lamentar profundamente por todo o mal que já fiz na vida e por tudo aquilo que um monstro como eu ainda continuará fazendo.

Quando vejo atos da polícia prendendo pedófilos na televisão fico imaginando quando chegará a minha vez de ir parar atrás das grades.

Eu odeio aquilo que sou. A minha vida é uma vergonha, um opróbrio para toda humanidade. Não mereço misericórdia, nem compaixão alguma. Sou mais baixo que o verme mais asqueroso que existe nesse mundo. O meu desejo é morrer, por que infelizmente acho que só assim irei parar de fazer outras crianças sofrerem quando a morte me levar.

Essa Carta é um desabafo, um grito de desespero de alguém que vive sofrendo e só faz coisas para trazer sofrimento aos outros.

São Paulo - SP, 31 de maio de 2010.

Anônimo (Pedófilo Desesperado)

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Ilha de Marajó – PA, Maio de 2010.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 31/05/2010
Código do texto: T2290700