À VIDA
Ele queria liberdade.
Queria simplesmente dizer sim a si mesmo. Já dissera muitos nãos a ele próprio.
Libertar-se para ser o que era, isso era o que ele queria. Um projeto de eu que ele mesmo fizesse. Ele mesmo sem levar em conta a opinião de ninguém. Seria radicalizar na ousadia da liberdade, ou seja, os nãos que ele sempre disse a si mesmo ele começaria a dizer aos outros.
A vocação o chamava.
Já há tempos ela o convocava para o seu lugar. Ele sempre a hesitar. Relutava, pensava, cumpria outras agendas, mas a sua própria ficava em segundo plano. Ele não queria mais dinheiro nem mais prestígio, pois isso traria também mais responsabilidade e isso era o que definitivamente ele não queria. Ser responsável é ser escravo. A responsabilidade deve ter uma medida mínima, ela em demasia cansa e torna cativo aquele que por ela é tomado.
Rompimento era a palavra de ordem. Romper com tudo que não fosse exatamente ele mesmo. Romper com todas as concessões e todas as procrastinações. Já por muito tinha sido escravo de diversas coisas que não eram as que ele escolheu. Haverá livre-arbítrio?
Tornara-se finalmente indiferente e os seus escravizadores maiores pareciam, pelo menos por um tempo, vencidos. Tinha que aproveitar a oportunidade para chutar todas as coisas que já estavam por muito tempo atrapalhando o seu caminho.
A vida gritava:
Sou única! Sou única!