PLUMAS AO VENTO
Do alto eu fico a observar.
Estou sentada... o vale a olhar.
Tudo lá embaixo é pequeno.
O menino andando.
O rio caminhando.
A menina com avental branco.
Branco?
Já foi branco um dia, eu diria.
Sopro levemente o fiapo que entre os dedos segurava.
A paina que se desmanchava.
O céu é tão azul.
Meu coração bate num compasso estranho.
Eu o estranho.
Convivi tanto com ele e não o reconheço.
Parece que fraqueja.
Que bate descompassado.
Mistura tudo aqui.
O presente e o passado.
O vale é lindo... o céu.
Meu corpo descansa sobre uma enorme pedra.
A friagem dela não me incomoda.
Nem o vento que despenteia meu cabelo.
Sobe a pluma... sobe... sobe.
Meu olhar acompanha.
E o vento a carrega.
O vento me castiga os olhos.
O vale vai ficando cinzento.
Sinto que estou morrendo.
E me ergo.
Não posso me deixar abater.
Não posso sofrer.
Saio andando.
Ignoro o vento.
Procuro ignorar a noite que chega.
Avisto as luzes da cidade.
Vou à praça e nela existe algo que eu jamais pensei reencontrar.
Um coreto.
Começo a chorar.
Mas logo a lágrima procuro limpar.
A orquestra começa a tocar.
Baixinho começo a cantarolar.