PLUMAS AO VENTO

Do alto eu fico a observar.

Estou sentada... o vale a olhar.

Tudo lá embaixo é pequeno.

O menino andando.

O rio caminhando.

A menina com avental branco.

Branco?

Já foi branco um dia, eu diria.

Sopro levemente o fiapo que entre os dedos segurava.

A paina que se desmanchava.

O céu é tão azul.

Meu coração bate num compasso estranho.

Eu o estranho.

Convivi tanto com ele e não o reconheço.

Parece que fraqueja.

Que bate descompassado.

Mistura tudo aqui.

O presente e o passado.

O vale é lindo... o céu.

Meu corpo descansa sobre uma enorme pedra.

A friagem dela não me incomoda.

Nem o vento que despenteia meu cabelo.

Sobe a pluma... sobe... sobe.

Meu olhar acompanha.

E o vento a carrega.

O vento me castiga os olhos.

O vale vai ficando cinzento.

Sinto que estou morrendo.

E me ergo.

Não posso me deixar abater.

Não posso sofrer.

Saio andando.

Ignoro o vento.

Procuro ignorar a noite que chega.

Avisto as luzes da cidade.

Vou à praça e nela existe algo que eu jamais pensei reencontrar.

Um coreto.

Começo a chorar.

Mas logo a lágrima procuro limpar.

A orquestra começa a tocar.

Baixinho começo a cantarolar.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 19/05/2010
Código do texto: T2266521
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