Carta de Uma Mulher Oca
Tem uma vida feita de nada.
Cacos espalhados pelo chão, em decomposição.
Percorre cubículos desfazendo pensamentos.
Evita a solidão mesmo sabendo que é meio gente, meio bicho.
Na imensidão procura parceiros ate a exaustão, apenas por alguns minutos de ilusão e prazer.
Leva a mão ao ventre seco, onde não se pode abrigar jamais um feto.
Não sabe se a vida que leva é merda ou é vazio.
Deixa marcas terriveis, lágrimas derramadas que fizeram secar a fonte para sempre.
O seus labios já não alberga o riso, nem espera o prazer de ser mãe.
Agora é apenas um corpo de mulher largada na vida, de espírito envelhecido, amargurada.
O corpo treme ao saber da dor que só uma mulher pode sentir, quando do poder de gerar uma criança.
Precisa de tomar mais um remedio controlado, controlar a dor.
Sexo, álcool e sexo.
Uma mistura explosiva.
Mas é do que se alimenta cada dia que passa por este corpo oco.
Como detesta a vida que levas, sentindo-se prisioneira deste corpo inutil.
Mas é na rotina da busca de preencher-se que se mistura com pessoas "cheias".