carta para K.
Para K.
(uma espécie de vitória-régia no Jardim Botâncio no Rio de Janeiro, com todas as letras e todos os silêncios, é claro).
Foi bonito, inaudito, (eu simplesmente fiquei abismada) ver nas minhas próprias mãos o que você fez de mim, por mim, juntou os pedaços e eu vi, era um compacto inteiro, meio inteiro, quase inteiro, inteiro para quem não tinha nem mais um caco quebrado. eu vi e me emocionei tanto que fiquei muda, mudinha! tamanho teu ato tão sensível, tão grandioso, eu te agradeço por reconstituir a mim reconstituindo outro, foi mesmo uma surpresa e eu não esperava coisa tão bela, um gesto tão generoso de sua parte, de puro amor e inteligência, aproximação do outro de mim para mim. quase não acreditei!
já faz tempos quero te agradecer ou retribuir, é que eu queria te fazer uma poesia bonita (como se bastasse ou valesse?) também não consigo e porque não sei, porque tem muitas coisas que nem tem palavra ou explicação nem figuração nem forma nem uma ainda, sei que você, seu gesto-presença-abraço não me sai da cabeça e me toca tanto que maio todo fica molhado. Mas é que não tem mistério, você me entendeu em tudo e percebeu tudo e selecionou as palavras mais exatas... eu fiquei surpresa e isso me fez um bem infinto. Até hoje me corre o efeito da sua escuta, do seu trabalho. Para você o meu amor, sem muitas palavras.
Meu abraço mais profundo como um baobá em espírito,
Alessandra
(no meu deserto sobre águas, maio de 2010.)