Presente de uma mãe!
Pois é, Senhor dos Exércitos, hoje estou aqui “assistindo” mais um “dia das mães”. Talvez devesse comemorar, sorrir, me achar extremamente especial, merecedora de todas as homenagens a nós direcionadas pelos meios de comunicação. Mas a verdade é que não consigo.
Recordo o dia em que uma senhora revelou-me um fato de sua vida, enquanto esperávamos ser atendidas no consultório médico.
- Acordei com minha filha tendo um pesadelo a noite. Chorava muito. Quis saber por quê? O que de nada adiantaria, pois era uma criança que ainda, e Graças a Deus, acreditava no valor imensurável de se ter uma família. Jamais ela contaria que o motivo da dor era a angústia de desejar me dar um presente ao qual o pai se opôs. Eu não merecia. Ele afirmou sem ousar sequer refletir que o presente seria uma representação figurativa do amor que ela quis demonstrar que por mim sentia. Desde que soube através de minha “ajudante” a razão daquele pesadelo de minha filha resolvi que nunca mais desejaria um presente pelo dia das mães, pelo meu aniversário, pelo natal, ano novo, ou qualquer data que pudesse ser “presenteada”. O tempo foi passando e quando chegava próximo á esses dias eu, com muito cuidado e alegria, dizia a ela “Eu tenho tudo que mais quero! VOCÊ!!!!!” E, aos poucos tudo foi se transformando. Há alguns anos pedi a separação. Minha filha até hoje brinca comigo, dizendo “Presente não, né Mãe?!”
A atitude daquela mãe mudou, para sempre, dentro de mim, o significado deste dia.
Vejo por detrás do gesto de dispensar o presente, até merecido, a necessidade de demonstrar a filha que o amor não tem preço, ainda que aquele pai tenha pretendido e conseguido reduzi-lo a nada.
A percepção daquela mãe, frente á situação de desrespeito daquele pai para com o desejo daquela criança, ensinou-me que a redenção da dor não acontece quando focada no ato que a disseminou, mas no ato que exterminou para sempre, da memória daquela criança, a “necessidade de presente”, ainda que tenha sido necessário um gesto de abnegação eterna.
Aprendi, também, que não se deve “justificar” a insensibilidade de “nossos pares” a pretexto de valorizar o “preço a pagar” pelo lar doce lar. Aquele que não respeita o sentimento de um filho não respeita o sentimento de uma mãe e muito menos de uma esposa (e vice e versa). Mais digno é assumir o que “já não sente” do que eternizar a “dor latente” no peito de um ser tão frágil e especial como uma criança.
Compreendi que os gestos, ás vezes quase imperceptíveis aos olhos humanos, são profundamente mais assustadores quando revelam a total indiferença para com o sentimento do outro.
Confirmei que a hipocrisia não cabe em nenhum contexto de vivência humana.
Hoje, decorridos alguns anos, também pedi a separação e continuo aprendendo que se desvencilhar da dor, da insensibilidade, da indiferença e da hipocrisia requer muita abnegação ao mesmo tempo em que traz um gosto de esperança que deseja sempre ser eterno.
Obrigada, Senhor dos Exércitos, por ter sido agraciada pelo relato daquela senhora quando eu ainda era uma jovem mãe.
Foi o melhor presente que recebi de uma Mãe!