"CARTA DE AMOR ENDEREÇADA AO CÉU" Carta de: Flávio Cavalcante
CARTA DE AMOR ENDEREÇADA AO CÉU
Carta de:
Flávio Cavalcante
Planeta terra, domingo 09 de Maio de 2010
Amoroso pai
Hoje amanheci com o meu coração em lágrimas e resolvi escrever esta carta endereçada á minha mãe que hoje faz parte do seu convívio. Falar o que o senhor já sabe sobre ela é perda de tempo; mas duvido que o senhor saiba o tamanho do amor e a saudade que hoje ela faz aqui na terra.
Deixa eu te falar uma coisa. Assim que um anjo passou aqui em casa não me contive e rabisquei algumas letras aproveitando para lhe falar o quando ela foi importante para todos nós.
Quando criança, Deus; ela não tinha condições de ter uma boneca e quando via sua amiguinhas brincando com seus brinquadinhos, aquilo lhe batia uma tristeza profunda, mas atiçava a sua imaginação de criar o seu próprio brinquedo. Ela correu na cerca de sua casa, pegou algumas buchas, um tipo de plantação rasteira que dá muito em cerca, furava dois buracos dando idéia de olhos, a envolvia em trapos e saía para brincar com suas amiguinhas, dizendo que aquele artefato seria sua boneca.
Pra o senhor ver, que o sofrimento da futura grande mulher começou muito cedo na sua vida aqui na terra.
Meu pai, na época, era soldado da polícia e meu avô não queria nem saber do envolvimento dela com ele; mas quem somos nós pra querer mandar nos teus desígnios, não é meu pai?
Mesmo sob uma surra de cinturão com fivelas grossas um dia que antecedeu ao seu casamento com meu pai, o amor depositado por ti foi bem maior que a ira daquele velho sem informações do amor. Eles se casaram e tiveram que enfrentar a barreira da dificuldade até pelo fato de meu pai ganhar muito pouco e o meu avô, havia desconsiderado a filha pelo fato de ter casado com um soldado.
Um ano depois, eu nasci, tudo parecia felicidade, aquele loirinho de olhos azuis que todos admiravam quando conseguiam me vir acordado, pois falaram-me que eu trocava o dia pela noite.
A dificuldade era muita, chegava o final do mês ela tinha as contas para pagar e realmente o salário do meu pai era muito pequeno na época. Pra completar apareceu em mim, um problema de saúde que fiquei praticamente a mercê da sorte de sua autorização para partir pro seu lado e aliviar o sofrimento daquela mulher que ainda jovem já tinha uma história de vida muito árdua.
O descontrole financeiro veio ao pico da montanha. Ela caiu de dentro no trabalho maçante de costura para ajudar a meu pai e devido a minha doença os gastos eram superiores, faltando a nossa alimentação. E sem jeito a dar, teve que comprar fiado numa vendinha de um generoso amigo chamado Mário.
Quantas noites acordada ela passou para dar conta de tanta costura. Chegou a um ponto que o corpo não estava agüentando mais de tanto sono e sabendo que eu não podia ficar sem o remédio, ela pegava uma bacia de água fria e fincava os pés para não dormir além de beber coca-cola com café para espantar o sono. Seis anos nessa luta.
Lembro-me, quando ela falou, Deus. Que uma noite, eu já com seis anos de idade e devido a minha doença aparentava ter meses de nascido, amanheci com o estado de saúde bem pior do que todos os dias. A febre chegava ao pico dos quarenta graus e o delírio dizendo que eu estava partindo e estava vendo meu caixão, foi um despertar para ela ver que tudo estava perdido; pois não tinha mais o que fazer e entrou em prantos, mostrando ali, que mesmo com todo sofrimento não queria perder o seu fruto que ela mais amava.
Lembra, Deus, que ela falou contigo para não me deixar levar? Essa parte eu não lembro, mas ela me falou em lágrimas que me pegou nos braços e levou-me pra dentro da igreja como se ali fosse o último lugar, pois não tinha mais aonde ir e o que fazer.
Parece que o senhor atendeu ás suas preces. Assim que ela saiu da igreja se deparou com uma amiga que a aconselhou levar a um médico e ela pensou. “MAIS UM” E pelo que a amiga falou, ele era um anjo guiado por Deus. Descrente, ela não tinha opção e levou no tal médico que a amiga havia falado. Assim que o médico me examinou, falou de imediato. “O PROBLEMA DESSE MENINO É NO INTESTINO” e de imediato passou outro tipo de remédio. Ela saiu sabendo que não tinha mais dinheiro pra comprar e já pensara em falar na farmácia pra comprar fiado e aumentar ainda mais a montanha de dívidas acumuladas devido ao meu problema. Restava em sua bolsa alguns trocados e para surpresa dela o remédio era bastante barato e os trocados deram pra ela comprar todos os remédios e ainda sobraram alguns centavos. Deu-me o remédio ali na rua mesmo. E foi através desse remédio e de todo amor que ela depositou em cima que hoje estou aqui emocionado escrevendo essa carta pedindo ao senhor humildemente que receba das mãos desse anjo essa carta e dê a essa matriarca um lugar lindo; pois ela representou muito bem seu papel não só de mãe, mas de ser humano; pois na sua partida, pessoas que eu nunca vi na vida aplaudiram a descida do seu corpo á campa em aplausos. Muito obrigado meu Deus.
Nada mais desse teu filho que te ama e tem certeza que o teu amor é recíproco.
Ass. Flávio Cavalcante
GLEIDE CAVALCANTE DE SOUZA PARTIU PARA A ETERNIDADE EM 29 DE DEZEMBRO DE 2009, E HOJE ELA REPRESENTA TODAS AS MÃES QUE SE DOA COMPLETAMENTE AO AMOR Á SEUS FILHOS.
PARABÉNS Á TODAS MÃES.