Carta de um Transexual
Eu não sei precisar ao certo, mas segundo relatos de familiares desde muito jovem comecei a apresentar um comportamento diferente para o padrão do gênero no qual eu nasci. Assim, desde criança fui manifestando um tipo de transtorno de identidade de gênero que aos poucos evoluiu até que eu me tornasse um transexual.
Isso tudo pode assustar muita gente, e confesso a vocês que até eu passei por uma luta tremenda comigo mesma e com o mundo à minha volta para poder assimilar essa situação “diferente” de minha vida.
À medida que fui crescendo, a minha identificação com o gênero feminino foi se fortalecendo cada vez mais, de modo que o desejo de viver e ser aceita como sendo do sexo oposto foi tomando conta do meu dia-a-dia.
Mas, tenho que ser sincera em dizer que tudo isso não foi nada fácil. Foi um processo longo de questionamentos e auto-aceitação daquilo que sou. Ao longo de anos, minha vida foi preenchida por uma sensação de desconforto ou impropriedade de meu próprio sexo anatômico.
Eu rejeitava meu corpo, a ponto de pensar em loucuras, como a automutilação de meu órgão genital. Toda essa estranheza daquilo que eu era me fazia desejar uma transição de meu sexo de nascimento para o sexo oposto, pois sempre me considerei uma “mulher presa em um corpo masculino".
Hoje, sinto-me feliz por ter “mudado de sexo”, por que sei que o que fiz foi simplesmente corrigir a anatomia de meu corpo.
Eu de fato sempre me vi como pertencendo ao gênero feminino, desejosa de assumir um papel de mulher, o que me fez lutar para ter a condição diferente do que a natureza me designou em meu nascimento.
Agora, só quero viver em paz comigo mesma e com a sociedade na qual estou inserida.
Santos - SP, 05 de maio de 2010.
Natália Vargas
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Ilha de Marajó - PA, Maio de 2010.
Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br